Memórias

De punhos cerrados adiante do olhar estreito, fadado à vil poeira que restringia seu corpo de achegar-se à cova que sedenta aguardava... Desolado na vasta planície de tão severa solidão, acolhia entre os dedos as rédeas surradas, curtidas de lembranças puras da gente que era viva e findara em memórias..., memórias guardadas na divisa do esquecimento.

Do entardecer à alvorada, entrincheirado em seu espírito o silêncio o devorava. Àquela terra árida dava o restante de seu fôlego, porque enquanto fora a pele ressacava e doía, jazia no interior somente deserto... e, vagas memórias guardadas na divisa do esquecimento.

De repente chorava sem lágrimas, chorava um choro soturno, sombriamente calado e escuro..., tão asqueroso, tão ermo..., tão... comum.

De novo às rédeas o olhar estreito.

No deserto do espírito as lembranças vagavam do limiar ao esquecimento completo; o corpo deitava ao pó e às profundezas abissais despencava, encontrando a cova que, antes sedenta, descansaria, perpetuamente saciada por possuir seu ser.

Filipe de Campos
Enviado por Filipe de Campos em 16/02/2019
Código do texto: T6576491
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.