Ser criança, ontem, hoje é sempre?
Passados vinte anos fomos à praia com uma criança de oito anos. Pelo tempo passado achávamos que seria bem diferente – foi e não foi!
Foi diferente, no que diz respeito a bagagem dos brinquedos: nada de baldinho com pazinha e forminhas pra brincar na areia, agora, a bagagem principal foi o tablet, mas acompanhado das filhas-bonecas, Lady Bug e Angel (não sei das quantas) que foi batizada com o nome de Larissa, mas é chamada de Lari;
Exatamente igual, foram as perguntas durante a viagem: falta muito? Tia ainda tá longe?. A distância e a ansiedade, acabaram gerando os pedidos para abrir a janela com os velhos resmungos: “tô ficando enjoada!” e a resposta imediata “dorme que passa”. Até que chega o soninho gostoso, e se pensa que nossos ouvidos vão ficar aliviados até o final da viagem, mas a possibilidade de conversarmos como adultos dura muito pouco e retornam as perguntas...
A chegada ao destino também nos surpreende, depois de vinte anos. O que, para os nossos pequenos, era suprido com a simplicidade de estar na casinha da praia, ficou chocante para nossa convidada porque nosso wifi estava fora do ar e, pior, também sem aparelho de TV.
A inteligência da criança quase gastaram os dedinhos da nossa pequena Duda, com a repetição das tentativas de se logar ao mundo virtual: - E agora tia? Me dá a senha de vocês que eu consigo ativar sim. - não adianta Duda, os técnicos terão que vir aqui pra arrumar a Internet.
O sofrimento da pequena é tanto que a vizinha de porta resolve oferecer a senha particular e tudo parece resolvido. Mas, a distância enfraquece o sinal e as tentativas de login retornam.
O primeiro dia foi frustrante para nós, como anfitriões, porém, ao chegarmos na praia com nossa pequena sobrinha-neta, tivemos a exata alegria dos vinte anos atrás, pois ela agiu exatamente como toda criança (incluindo muitos adultos): correu para a água, deu jeito de cavar buracos na areia, tentou fazer castelos, saboreou o bom e velho picolé – independente do horário ser de almoço - e tudo mais que leva-nos ao cansaço extremo, mas gratificante.
E nossas experiências de antes e depois prosseguiram. Depois de um dia de praia, pensamos: se estamos cansados ela também está e vai chegar em casa, tomar banho, lanchar e dormir até a hora da janta. Ledo engano, o mar energizou a pequena criatura e somente as duas primeiras ações se cumpriram– banho e lanche, depois veio o tablet, os desenhos (na tv novinha), brincadeiras com as bonecas-filhas e, claro, puxar os velhos tios para o jogo de Dominó ou Uno. Meu deuzinho, amanhã tem mais, igualzinho como nos tempos idos.
Como dez dias passam rápido, chegou o dia da viagem de volta e as perguntas tradicionais retornaram, mas a saudade da casa, do seu cantinho e, no caso da Duda, dos seus grandes amores (mãe, vó, maninha e o casal de gatinhos) fez com que o sono ficasse longe. Com isso, a viagem tornou-se uma grande brincadeira, como nos velhos tempos, cheia de versinhos, soletrar palavras, trava-língua e muito mais, até que o relógio pareceu parar e Dudinha começiu a querer saber se faltava muito “falta tantos minutos”- “mas quantos segundos dá isso, tia?” e a introdução de novos assuntos foi ficando difícil. Só restava incentivá-la a contar os segundos.
Chegamos na frente da casa da Duda e logo que foi liberada para sair do carro, ela disparou na maior gritaria de felicidade. Ficamos lá um tempo e a pessoinha não nos “deu bola” mais e, quando nos despedimos, deu um beijinho e agradeceu, mas naquelas – nada como a casinha da gente!
A Duda nos mostrou que o “ser criança” não mudou muito nesses vinte anos. Tomara que não mude nunca, pois aprendemos, ou relembramos com elas, que a vida pode ser leve, divertida e feliz, praticamente sem custos financeiros, basta dedicação, exercício infindável de paciência, além, é claro, de fôlego. Ufa!