talvez a culpa esteja no café que deixei de tomar ontem
Eu fechei os olhos e imediatamente vi meus pés numa onda que quebrava na praia. Eu tinha lido recentemente que nosso cérebro age por hábito, e que para maus pensamentos ou aqueles que nos toma antes do sono, deveríamos contrariamente lembrar de algo que acalentasse a alma. A lembrança do mar foi calmamente me embalando.
Eu passei a semana tentando entender a carência humana e o que era ter uma presença real na vida de alguém. E o quanto até nosso próprio toque nos dá um certo atestado de existência. E junto a tudo isso, fui me dando conta do quanto as pessoas não se amam, não abraçam a si mesmas, não praticam autocompaixão.
Talvez a culpa de tanta intensidade esteja de fato no meu mapa astral, ou talvez no café que deixei de tomar ontem. Mas diante de tanta coisa voltando nossos olhos para a realidade e a fragilidade humana, eu quis me dar esse abraço. Aquele mar era eu. Aquele toque era meu. Agradeci por cada pessoa que, entre tantas do universo, havia cruzado justamente o meu caminho, e desejei com paixão que algumas delas permanecessem para sempre, mas que isso nunca me tomasse o prazer desses momentos de silêncio.
Dizem que esse ano começou gritando. Se escute! A poesia prevalece. Como eu sei? o mar me disse.
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