O santo do meu nome
Outro dia eu fiquei sabendo que também lá na República Tcheca, onde viveram vários dos meus antepassados, existe o costume de se comemorar o “dia do santo do seu nome” mais do que o próprio aniversário. Ou seja, se a pessoa se chama José, irá comemorar o Dia de São José, e não o dia em que ela mesma nasceu. Eu sabia que isso acontecia na Rússia, mas, pelo visto, é comum a outros países da Europa oriental. É um costume curioso, associado diretamente ao catolicismo, mas que, nem por isso, acontece aqui no Brasil. Já vi muita gente escolher como nome da criança o do santo do dia, fazendo com que as datas coincidam, mas nunca soube de alguém que comemorasse o dia do santo do nome.
Há pessoas que nem teriam o que comemorar. Digamos que você se chame Roberval. Ora, mesmo que consulte os melhores tratados hagiológicos (isto é, os que falam sobre a vida dos santos), não haverá um único santo chamado Roberval. Por outro lado, outros teriam santos até demais. O sujeito que se chama João comemoraria no dia de São João Batista ou no dia de São João Evangelista? Dificuldades à parte, tive a curiosidade de saber quem era o santo do meu nome, pelo menos o santo mais conhecido do meu nome, a fim de ver se tinha algo em comum com ele. Ora, é preciso um mínimo de identificação, afinal, eu precisaria comemorar o dia do santo mais do que o meu próprio aniversário. Fui atrás então de Santo Henrique e até que gostei do que eu vi.
Santo Henrique foi o único santo imperador da história. Teve santo rei? Teve. Imperador, só o meu. Antes de ser santo, atendia pelo nome de Henrique II. Era neto de Carlos Magno, que com toda certeza é meu antepassado e de metade do mundo. Nasceu na Alemanha, o meu Henrique, na linda Baviera, onde eu também tive antepassados, mais recentes. Foi o Imperador Romano-Germânico desde o ano de 1014 até a sua morte em 1024. Antes, já havia sido Duque da Baviera, Rei da Germânia, Rei da Itália. Esses títulos não me impressionam muito, a mim que não acredito na salvação pelos governos. Mas, já que era para se exercer algum poder, parece que o velho Henrique até que teve os seus méritos.
Basta dizer que ficou conhecido pela alcunha “O pacífico”, enquanto que o seu pai era chamado de “O briguento”. Henrique cresceu com todas as benesses que só uma corte imperial pode oferecer, mas, aparentemente, não se deixou corromper pelo luxo e pelas diversões. Dizem que agia com muita justiça, bondade e caridade. E que ele frequentava a missa ao lado das pessoas comuns. Fala-se que aliava a religiosidade à integridade de costumes, coisa que é de se esperar para alguém que se torna santo, ah, mas bem sabemos que existiram santos terríveis.
Henrique se casou com uma mulher que era, literalmente, uma santa. Era a Santa Cunegundes, que atendia crianças e idosos abandonados com suas obras assistenciais. Formavam um bom casal, pois. E o que dizem é que fizeram voto de castidade, ou seja, que não faziam sexo. Talvez fosse verdade, já houve gente assim no mundo. O fato é que não deixaram nenhum descendente. E nesse ponto eu vejo alguma semelhança comigo, pois também não terei filhos, e eu seria o tipo de homem que toparia um casamento sem sexo, embora eu esteja muito longe de ter a nobreza que é atribuída ao santo do meu dia.
Não sei que milagres foram atribuídos a ele para que merecesse, depois da morte, ser chamado de santo. Em verdade, já era milagre o fato de um imperador ser pacífico, e só isso já deveria bastar.
Foi o que consegui levantar sobre o santo do meu nome. O dia dedicado a ele é 13 de julho. Não irei comemorá-lo, pois isso acarretaria consequências astrológicas (eu mudaria de signo). Mas, se lembrar, eu dedicarei um pensamento ao velho Henrique.