A HISTÓRIA DOS QUATROS PÉS DA MESA
Era uma mesa com quatro pés.
Com sua forma e funcionalidade como tantas que existem por aí.
Até que um dia, um dos pés começou a falhar no cumprimento
do seu papel.
Era pé de mesa que, por defeito de fabricação e por decorrência de coisas que aconteceram, acabou não atuando como normalmente se espera.
Por consequência, a mesa foi ficando meio bamba.
Mas, mesmo assim, nunca deixou de ser mesa.
E aquele pé nunca deixou de ser pé.
Vale lembrar que os outros três pés também tinham defeitos de fabricação e atitudes que normalmente não se espera.
Então um pé resolveu abandonar o barco.
A mesa então ficou sem um pé e com aquele outro tentando cumprir
seu papel.Tinha até certo sucesso nisso.
Mas, vez por outra, pisava na bola.
Dizia que seria um pé nota 10 e falhava no cumprimento da promessa, apesar de todo empenho pra querer oferecer outro desfecho.
Os outros pés nunca esqueceram nem perdoaram as promessas não cumpridas.
A mesa, então, se firmou com três pés.
Até que outro pé decidiu também sair de cena.
Daí a mesa ficou com dois pés.
O que fazer? Deixar de ser mesa? Um dos pés restantes também
sair de cena? Os dois saírem de cena?
Daí a mesa já era.
Ou, quem sabe, os dois pés que ficaram poderiam fazer o trabalho
dos quatro pés originais, firmes, fortes e até mais felizes de quando compunham, com outros dois pés, o roteiro inicial.
Talvez um dos pés que abandonou o barco, ou ambos, percebessem
que a mesa estava firme sem eles, até melhor do que quando
estavam lá juntos, e tivessem vontade de voltar a cumprir o papel
original, retornando à sua raiz.
Ou pensarem que, mesmo nesse novo cenário, não tivessem a menor vontade de se juntar aos pés originais.
Cada pé de mesa pensa do seu jeito, tem seus sonhos, mágoas e desejos, e decide por si só o que faz da vida, pagando o preço disso,
tendo o ônus e bônus correspondentes.
Os pés que ficaram sozinhos bem que poderiam recebê-los de volta, com braços abertos, alma tranquila e sorriso no rosto.
Assim a história teria final feliz.
Ou por estarem magoados por terem sido abandonados, não quererem aqueles pés de volta, apesar dos dois pés que foram embora serem feitos da madeira dos pés que ficaram.
Assim a história teria um final triste.
Essa crônica pode lhe parecer familiar.
Pra mim, é bem mais familiar do que parece.