Na areia, o relógio de bolso (BVIW)
Manhã nublada, observo o relógio de bolso, quase, coberto de areia, imobilizando o tempo das ondas... A pausa dos ponteiros repleta de sons do passado emociona-me, enquanto alguns elos da corrente dourada espiam o voo da gaivota.
Os fragmentos de sons permanecem em silêncio envoltos nas imagens contidas nas lembranças refletidas... repetidas em ciclos de vidas; memórias tecidas com olhares, gestos e sonhos perfumados, aconchegados em breves notas suaves de jasmim que, literalmente deságuam em palavras e versos.
A quietude dos sons contrasta com a sensação de calor e de vida das linhas das impressões digitais das mãos que seguravam o relógio com cuidado, num ritual diário de olhar as horas e sentir em números, a passagem do tempo... Feito uma colcha de retalhos que a cada segundo recebe o toque da agulha e fio em suas tramas, unindo texturas e cores.
Nos sons do passado a vida silencia-se em tons de sépia nas fotografias.