UMA NOITE NA CASA GRANDE

20 horas no sertão é pra lá de tarde, muito tarde até da hora, costumes de uma época de lamparinas, antes de Paulo Afonso. Na casa grande da vovó ainda tinha um atenuante, tio Pedro desligava o gerador exatamente às 20 horas, então esse era o costume. Como era férias, e muitos urbanos estavam na casa, a noite se prolongava até o sem fim. E toda noite tinha o tradicional buraco, o buraco mole, sem regras definidas, somente se fazia trincas e sequências, valendo tudo. A partida era de dois mil pontos, se uma dupla ganhasse as duas era o fim, se cada uma ganhasse uma, era necessário a negra. antes da contenta se iniciar, vovó varria a sala, colocava a mesa no centro, colocava o pano verde, o baralho, o caderno e o lápis. O caderno era o verdadeiro inventário de quem era o melhor jogador. As duplas tinham nomes, nomes esses sempre com tom de brincadeira, tipo dupla bestinha, sabidona, vai que é mole, caga raiva e por aí vai. Na mesa do baralho se colocava quatro cadeiras grandes, destinada aos jogadores, e dois tamboretes ao lado de cada cadeira, destinado aos perús. Os perús tqinham regras rígidas, sendo explesamente proibido suas manifestações, qualquer que seja a forma, sob pena de ser expulso do recinto. A ordem de escolha do emparceiramento era na maioria das vezes por idade, e por vezes um bom jogador dava lugar a um mais velho, por respeito. Também dependendo da sua moral, um viajante importante era chamado a mesa, mesmo sem saber jogar muito, e o jogo ficava naquela noite meio que amistoso, nas entre linhas de mangava muito desses jogadores, papai era um desses. Menino só jogava na última opção, quando faltava todos, esse era meu caso para jogar. Um jovem de 20 anos, se jogasse muito bem, era também solicitado para o evento, Taciano era muito querido nas rodas de baralho, por jogar muito bem. Não era permitido fazer qualquer manobras inlícitas, tipo piscar olho ou apontar com dedo, para que o parceiro pegue uma carta, mais lógico que eles se conheciam muito bem e isso acontecia o tempo todo. Alguns jogadores eram extremamente engraçados por seus trejeitos, tipo chorar a carta e chamar pelo satanás, além de entortar o pescoço quando pegava um melé, tio Paulo era o campeão. Tinha os mais sabidos que marcavam o baralho e coisa e tal, meu tio Hélio, caixeiro viajante era o melhor nessa área. Tio Ivo reclamava de tudo, e vez por outra se levantava da mesa e ia dormir mais cedo, nesse caso era substituído, e todos ficavam rindo da sua caga raiva. Tio Pedro jogava muito pouco, mais jogava. Tio Tasso jogava sempre, era muito educado. Assim era as nossas noite na fazenda Cajazeiras, tempos bons, tempos que não existem mais, tempos família, tempos de união, não esses tempos de hoje de jogos unitários, eram jogos coletivos, onde todos amavam a todos. Nunca mais vai haver tempos assim. Creio eu.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 13/02/2019
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