"Os meninos sem manhãs"
Numa manhã de sexta-feira,
os meninos que sonhavam com chuteiras nos pés e bolas nas redes,
não amanheceram !
Um fogo impetuoso e voráz atravessou a cortina da madrugada e queimou tudo,
numa tragédia que bateu ás portas do Flamengo
e dos pais dos meninos/atletas ,
transformando em cinzas os sonhos,
a madrugada,
e a manhã.
Foi a primeira notícia á dar “bom dia” nos telejornais da manhã daquele dia que não houve para os meninos
Antes que as investigações e as perícias apontem para as causas do incêndio, pais, parentes e amigos choravam os seus mortos diante da dor da perda de seus entes queridos, que não mais serão escalados para o próximo jogo,
não terão seus nomes aclamados nas arquibancadas de estádios lotados, não jogarão em grandes clubes da Europa,
não irão comemorar os seus gols,
não escreverão suas histórias,
porque,para eles,
história não mais haverá para escrever.
Vimos nos noticiários da TV que o alojamento que o Clube oferecia aos garotos não tinha certificação para tal finalidade. Era, sim, um estacionamento que fôra improvisado para acolher e alojar as categorias da base, em contâineres de espaço reduzido.
Se assim fôr,
isto revela o descaso e a omissão com que as instituições tratam (ou destratam) as pessoas no Brasil, onde a ganância e os interesses de pessoas ou grupos
são sobrepostos aos interesses coletivos e, neste caso específico, visando os lucros que estes meninos trariam, no futuro, se elevados fossem á categoria de jogadores profissionais.
Se assim fôr,
este descaso com os meninos/seres humanos é o reflexo de um Brasil que ainda não deu certo e que já conhecemos de outros descasos: Um país de políticos que não cuidam do seu povo e não lhes presta respeito, sendo estes os que os elegem e pagam seus gordos salários, á estes que fazem maquinações nas caladas das noites.
Se assim fôr,
nós, o povo, haveremos de bater no peito e lamentar nossa parcela de culpa por eleger os mesmos de sempre,
políticos de carreira, que, provavelmente, deveriam estar “deitados eternamente em berço explêndido”,
enquanto o fogo ardia na noite dos meninos do Flamengo e na dor dos pais dos meninos do Flamengo.
Se a gente pudesse se colocar no lugar do outro,
e se, ainda que por um breve momento,
pudesse deixar a dor do outro doer em nós,
certamente haveríamos de poder recriar a nossa humanidade tão sufocada na fumaça do “cada um por sí”,
encobertos pelas cinzas do “salve-se quem puder”.
Se assim fôr,
pode ser que ainda vejamos “iluminar o céu de um novo mundo.”
Enquanto isso não acontece,
os pais dos meninos mortos não entrarão em estádios lotados,
não ouvirão alguém gritar os nomes dos seus filhos,
e o grito de gol será sufocado pelo fogo da saudade teimosamente queimando por dentro.
Se assim fôr, oremos ,
Por nós e por eles “