Sobre a função da arte (releitura)...
... o prisioneiro nunca tinha visto o céu. O carcereiro, por obrigação final, o levou para que o descobrisse. Subiram das profundezas das raízes da montanha. Ele, o céu, estava lá, do lado oposto da caverna, lento, esperando. Quando o prisioneiro e o carcereiro enfim alcançaram aquelas alturas de abismo, depois de muito subir, o céu estava acima de seus olhos e suas cabeças. E foi tanta a imensidão de céu e, tanto o fulgor, que o prisioneiro ficou mudo de beleza e surdo da ventania. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, tropeçando, pediu ao carcereiro: - me ajuda a cair!
A função da arte (texto original)
Eduardo Galeano
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!