Me perdoe por ser coração

É que sabe, eu ainda estava na fase de pedir justiça por Mariana, e Brumadinho foi minha carne viva nesse início de ano. Eu sei que todo mundo já falou disso, mas essa coisa de justiça que tarda e não falha é tão démodé como pensar que terno e gravata confere dignidade a alguém. Como pensar que a roupa que você usa vai definir as atitudes que você toma, na câmara, na cama ou na vida.

“Pes-so-as! Já ouviram falar? Uma coisa maravilhosa, gratuita, e que não precisa de carregador nem de tomada. Por sinal, última palavra em matéria de tecnologia”. Porque na boa, que lama tóxica é essa que faz todo mundo se esquecer desse detalhe tão crucial e importante pra um corpo social tão bizarro?

Você sabe? A verdade é que eu não sei se estou preparada pra viver toda essa época, e peço perdão por às vezes achar que meu peito é de aço. Ele não é. E embora ele sempre tenha sido pátria desde que eu li, aos 12 anos, Cartas de Erasmo do José de Alencar, nesse momento ele é Córrego do Feijão. Ele já foi tanta coisa, menos de aço. Nesse momento ele está com medo do Brasil. O brasil da câmara, o brasil da vale, o brasil das milícias – essa moda em 2019 mas que existe desde Erasmo – o brasil sem educação.

Prometo que semana que vem, eu volto com mais poesia. Tipo texto de respiro, sabe?

Você é capaz de me perdoar? Diga que sim e eu serei capaz de perdoar nosso destino. Por mais bonito que ele poderia ser do jeito que eu imagino.

#TextoDeQuinta

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 07/02/2019
Código do texto: T6569288
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