NINGUÉM MERECE!
Nenhum daqueles soldados ali destacados teria sido convocado pelo sargento de plantão para prestar esclarecimentos ao seu comandante em face da não realização dos serviços de limpeza nas dependências do quartel-general naquele dia. A expectativa dos soldados que estavam na caserna era geral. Pela gravidade da ocorrência deveria haver punições severas, culminando até com possíveis penas de reclusão, pois não era comum naquele destacamento um deslize daquela amplitude.
No dia seguinte, mal começou o ritual para o treinamento rotineiro, todos os soldados já se preparavam para receber uma grande reprimenda em razão do descumprimento daquela tarefa obrigatória. O sargento de plantão do dia, um daqueles cidadãos de feição carrancuda, andava de um lado para o outro, parecendo um touro acuado num dos cantos de um curral, acossado por um vaqueiro destemido, e dava a entender que a casa tinha caído e que o couro iria comer solto no lombo daquela rapaziada distraída.
Todos os recrutas estavam aparentemente trêmulos e o recruta Lopes, o mais moço de todos, dotado de compleição física mediana, era o que mais tremia. A intensidade do seu descontrole emocional era tão visível que dava a impressão que ele tinha sido acometido de paludismo, aquela doença parasitária potencialmente mortal, transmitida por mosquitos, mais conhecida pelo nome de malária.
Por uma questão de honra e de solidariedade humana, àquela altura dos acontecimentos, se houvesse alguma cobrança pelo descumprimento de alguma atividade diária, ninguém deveria assumir sozinho a culpa e se houvesse algum tipo de punição deveria ser extensivo a todos.
Finalmente, era chegada a hora da revista, o momento da efetiva conferência por parte do sargento de plantão, se as atividades que tinham sido destacadas por ele, no dia anterior, tinham sido feitas a contento. Como de costume, ele andou por todas as dependências do quartel, contudo, nada de anormal ou a existência de algum serviço mal feito ele demonstrou ter encontrado.
Era prática muito comum, por parte daquele sargento, sobretudo quando se referia ao desempenho geral dos recrutas sob seu comando, fazer algumas críticas, comentários e/ou elogios, relatando, evidentemente, para os demais membros do grupo, o desempenho individual de cada um deles. Às vezes, ele até premiava o que mais se destacava e a forma dessa premiação era votada por todos os integrantes do grupo, fazendo uma pergunta costumeira e ele assim o fez naquele momento:
- Quem é o merecedor do prêmio de hoje?
Excepcionalmente, naquele dia, em razão da falha operacional cometida pelo grupo encarregado da faxina, os demais membros do grupo decidiram proteger os colegas que haviam incorrido naquele erro considerado grave pelo regimento interno do destacamento e ali, uníssonos, responderam:
- Senhor, hoje, ninguém merece!
O sargento que era um militar muito experiente, acostumado a administrar as astúcias e inconsistências praticadas por outros grupos de recrutas que por ali passaram, foi fácil para ele entender o que se passava com o moral dos membros daquele grupo naquele momento, tamanha era a obediência e o respeito deles para com a sua forma flexível de comandar.
O sargento, sem titubear, assentiu com um simples aceno de cabeça, o qual viria ao encontro, ainda que de forma implícita, do desencargo de consciência de cada um daqueles soldados e ele, para demonstrar que havia descoberto a razão daquela proteção e preocupação recíprocas entre os seus recrutas, esbravejou:
- Realmente, soldados, pelo que pude observar após a revista que fiz hoje, ninguém merece mesmo!
Nenhum daqueles soldados ali destacados teria sido convocado pelo sargento de plantão para prestar esclarecimentos ao seu comandante em face da não realização dos serviços de limpeza nas dependências do quartel-general naquele dia. A expectativa dos soldados que estavam na caserna era geral. Pela gravidade da ocorrência deveria haver punições severas, culminando até com possíveis penas de reclusão, pois não era comum naquele destacamento um deslize daquela amplitude.
No dia seguinte, mal começou o ritual para o treinamento rotineiro, todos os soldados já se preparavam para receber uma grande reprimenda em razão do descumprimento daquela tarefa obrigatória. O sargento de plantão do dia, um daqueles cidadãos de feição carrancuda, andava de um lado para o outro, parecendo um touro acuado num dos cantos de um curral, acossado por um vaqueiro destemido, e dava a entender que a casa tinha caído e que o couro iria comer solto no lombo daquela rapaziada distraída.
Todos os recrutas estavam aparentemente trêmulos e o recruta Lopes, o mais moço de todos, dotado de compleição física mediana, era o que mais tremia. A intensidade do seu descontrole emocional era tão visível que dava a impressão que ele tinha sido acometido de paludismo, aquela doença parasitária potencialmente mortal, transmitida por mosquitos, mais conhecida pelo nome de malária.
Por uma questão de honra e de solidariedade humana, àquela altura dos acontecimentos, se houvesse alguma cobrança pelo descumprimento de alguma atividade diária, ninguém deveria assumir sozinho a culpa e se houvesse algum tipo de punição deveria ser extensivo a todos.
Finalmente, era chegada a hora da revista, o momento da efetiva conferência por parte do sargento de plantão, se as atividades que tinham sido destacadas por ele, no dia anterior, tinham sido feitas a contento. Como de costume, ele andou por todas as dependências do quartel, contudo, nada de anormal ou a existência de algum serviço mal feito ele demonstrou ter encontrado.
Era prática muito comum, por parte daquele sargento, sobretudo quando se referia ao desempenho geral dos recrutas sob seu comando, fazer algumas críticas, comentários e/ou elogios, relatando, evidentemente, para os demais membros do grupo, o desempenho individual de cada um deles. Às vezes, ele até premiava o que mais se destacava e a forma dessa premiação era votada por todos os integrantes do grupo, fazendo uma pergunta costumeira e ele assim o fez naquele momento:
- Quem é o merecedor do prêmio de hoje?
Excepcionalmente, naquele dia, em razão da falha operacional cometida pelo grupo encarregado da faxina, os demais membros do grupo decidiram proteger os colegas que haviam incorrido naquele erro considerado grave pelo regimento interno do destacamento e ali, uníssonos, responderam:
- Senhor, hoje, ninguém merece!
O sargento que era um militar muito experiente, acostumado a administrar as astúcias e inconsistências praticadas por outros grupos de recrutas que por ali passaram, foi fácil para ele entender o que se passava com o moral dos membros daquele grupo naquele momento, tamanha era a obediência e o respeito deles para com a sua forma flexível de comandar.
O sargento, sem titubear, assentiu com um simples aceno de cabeça, o qual viria ao encontro, ainda que de forma implícita, do desencargo de consciência de cada um daqueles soldados e ele, para demonstrar que havia descoberto a razão daquela proteção e preocupação recíprocas entre os seus recrutas, esbravejou:
- Realmente, soldados, pelo que pude observar após a revista que fiz hoje, ninguém merece mesmo!