Nunca disfarça a farsa
Letícia, uma colega de lugares que não se guarda endereço por preguiça momentânea, disse-me certa vez:
— Não se disfarça a farsa!
Pobre e inocente era a Letícia. O mundo é um moinho e somos poeiras que mudam constantemente, não só disfarçamos a farsa, quase sempre somos os farsantes de emoções febris, sorrisos mentirosos, notícias fugaz e mórbidas. Tenho por ocasião do assunto, um acontecimento bobo; certo dia demonstrei intenções e votos de profunda essência, foi ideias perfeitas em emoções confusas, foram minutos pálidos como a própria doença do século, li uma carruagem de vontades insanas e delitos perdidos, esses que nunca serão lembrados ou reestabelecidos pela mente, mas que sempre estarão neutros em uma parte fria do corpo, congelados pelas palavras “nunca será você.”
Contudo, aceitamos sem criar entraves prolongadas, pouco importa o não dito ou a aceitação de contentamento dos delírios da mente.
Por um lado, Letícia estava certa, por outro, ela desconhecia o poder de uma conexão, a eletricidade de uma voz trêmula, a maciez de uma pele nervosa e rasgada, o cheiro caramelizado de uma pele arrepiada de medo e principalmente os olhos agoniados de um momento inédito. Acredito que hoje, ela já descobriu tais coisas, e que tristes vives por perder a inocência do seu conhecimento, mas é isso que o tempo faz, traz facetas estimáveis e leva pérolas conservadas para outro ser humano.
Teresina, 04.02.19