É domingo.
Arrastam-se os dias com lentidão, angustia-se por demais o coração, perturba-se a alma já cansada. Sou este ser desqualificado buscando no recôndito da solidão vozes que jamais serão ouvidas. Mas, essas vozes lá no âmago do peito ressoam como um sino velho no alto de uma torre.
Arrastam-se os dias com amargura, angustia-se a pena do poeta em linhas delirantes, perturba-se a branca folha em que ele se debruça.
Os seus dizeres são enigmáticos, e cada um correspondente à provocação dos dizeres, é o falar sem querer ser compreendido, é o nada, é o tudo. Sou para alguns dos meus pares apenas um insano, e nada mais.
Arrastam-se os ponteiros do relógio, angústia-se os versos sem a rima, perturba-se a melancólica nota da canção. A lembrança, às vezes, é por demais atrevida. Aos olhos do poeta, tu, Tulipa desfolhada, jamais deverá ser esquecida, no entanto, as suas cores ainda são fortes, enquanto os sentimentos, confusos e complexos.
Finalmente é domingo, o dia parece calmo… Impressão tola - não vejo expectativas. Uma leve brisa começa a soprar neste instante, vinda de lugares estranhos. Esse é um daqueles dias complexos, com muito movimento nas ruas e avenidas movimentadas... Outra impressão tola - o dia se faz monstruoso, um assassino silencioso. É dia de trabalho intenso, de dor intensa que se faz monstruosa'. Uma ponta de tristeza veio assombrar meu coração, memórias antigas que teimam em ficar e machucar, infelizmente a moléstias nunca vai se dissipar deste reles invólucro de carne.
As minhas manhãs de domingo não se diferenciam das demais manhãs do resto da semana, todavia, existe qualquer coisa de estranho neste primeiro dia da semana. Lembro-me do tempo de infância, na inesquecível fazenda Lindoya... Não há muito o que dizer, foram bons tempos, hoje, o meu reino encantado se foi, nada é mais como foi antes, áureos domingos foram embora, aliás, todas as coisas boas estão indo embora.
"Uma vez mais,
O teu sorriso brilhou em mim,
Enlouqueceu-me novamente,
A chama ardente de teu sorriso,
Levou-me a mundos imaginários,
De tentações ocultas e prazerosas, inesquecíveis,
Sou uma sombra de olhos abertos,
Te desejando a cada momento,
Te desejando em cada verso,
Te vestindo com minhas palavras,
Te enfeitando com meus versos,
Mas existe uma distância entre nós,
Uma muralha de vidro que nos separa,
Um intransponível abismo,
Entre o eu de dentro e o eu de fora".
Arrastam-se os dias nesta inóspita terra, angústia-se o olhar moribundo, perturba-se o olhar dilacerado. E uma vez mais, talvez a última vez, esse meu desejo descontrolado quer a doçura infinda. Que os dias não mais falem de amor, que eles apenas o sinta o tempo que for necessário, o amor é também domingueiro.
'Seis horas da manhã', acordei cedo, é o terceiro dia do segundo mês do ano de 2019. Sonhei que estava na igreja, Terno, gravata, perfume, bíblia, louvores...
É manhã, o beija-flor poeta, aquele mesmo de outrora, bom… O que dizer… Ele foi embora agora, como toda ave voou para longe, contudo, deixou a inspiração dessa crônica. Sei porém, que em breve ele voltará, como sempre faz todas as vezes em que tem sede de poesia. Amo muito esse beija-flor, aprecio as nossas longas conversas, de tudo enfim. O ponteiro do relógio arrasta-se com grande dificuldade, parece não querer perder a essência do domingo. Entretanto, logo mais, esse dia tão esperado para alguns, será apenas a lembrança em uma segunda-feira agitada e atípica para outros.