CAMINHADA
CAMINHADA
Invariavelmente as 5 abrem-se os olhos, aliás, não as 5 mas as 4, temos a mania de contrariar e mudar para pior o que a natureza nos impinge. O jornal chega, antes repleto de sangue, agora acrescido de lama, lágrimas e infortúnios. Por mais que adoce, o café permanece amargo. Saio para a caminhada e lá estão a lua e as estrelas, indiferentes a tragédias, continuam belas. A praça tem poucos bons-dias, mas o mais agradável cumprimento logo se inicia, com o despertar da passarada. Aos poucos vão chegando mais vidas, a maioria da terceira idade, buscando saúde e companhia. Outros, apressados, de menor idade para chegar a escola, de maioridade para ir ao trabalho, aqueles que ainda o tem. O sol dá as caras,
também indiferente, aos bons e maus augúrios sobre sua performance, radiante e abrasadora. Boa parte dos vivos não vê a lua, as estrelas, o sol, não ouve o ronco de motores, estão cegos e surdos em suas telas que os abduzem; não veem a quaresmeira em flor, o flamboyant deslumbrante, a sibipiruna tão majestosa, tão brasileira. Mais um dia começa, com seus momentos de intensa fluidez e nuances, guiados por alguém que não está visível a olhos, apenas a corações e almas.
O dia terá continuidade, na sua rotina de sol, lua, estrelas, nuvens, ares, ventos, calores, frios, repleto de instantes, tal qual a caminhada, que esta sim, quem sabe continue. Ele é quem decide.