O SURF CONTAGIANDO O LITORAL PAULISTA II
Mais um pouquinho de história de nosso surf. Deixo bem claro que as coisas foram acontecendo em diversos lugares. Como eu era da galera da Praia do Itararé, sabia pouco do ocorria em diversos lugares de Santos e Guarujá. Então conto o que vivi, e não pretendo ser o inventor do surf. ALOHA!
O SURF CONTAGIANDO O LITORAL PAULISTA II
Imediatamente após a estreia da prancha na Praia de Pernambuco, eu, o Sérgio Heleno e o Di Renzo não perdemos o entusiasmo pelo novo esporte e tratamos de descobrir mais detalhes sobre surf. No começo de tudo, nada me deixou tão alucinado e fanático em toda a minha vida. Eu, o Sérgio Heleno e o Di Renzo, só falávamos e comíamos surf. Eu tinha a Enciclopédia Britânica e fiz consulta sobre o surf. Recebi um calhamaço em inglês contando a história desse esporte praticado pelos antigos reis havaianos e levado para os Estados Unidos por Duke Kahanamoku. A história me interessou pouco, pois o que importava era fabricar prancha e surfar cada vez mais. Mas como fazer para três fominhas utilizar uma só prancha? Depois de muita briga acertamos que cada um podia pegar três ondas por vez. A briga continuou, pois tinha onda que era curta ou o cara caia logo e queria pegar mais, etc.
Nossos amigos de natação ficaram contaminados e foram procurar como fabricar ou comprar prancha importada ou trazer do Rio de Janeiro. Nosso diferencial é que já tínhamos uma prancha e estávamos começando a fabricar a segunda tipo caixa de fósforo agora com 2,80m, maior que a primeira. Por isso partimos na frente. Então, por poucos meses, surfamos em uma praia que não tinha absolutamente ninguém praticando surf. A praia de Itararé era nossa, só nós três pegávamos ondas e o cuidado para não atropelar banhistas era grande. O problema era conseguir convencer os salva vidas que os dias de ressaca eram os melhores. Você estava lá depois da arrebentação e chegava um salva vidas, quase se afogando todo esbaforido, dizendo que tínhamos que sair da água. Depois de muita discussão o coitado voltava batendo seu pé de pato, achando que éramos malucos. Certo dia encontrei o Di Renzo sentado ao lado da prancha, dentro do Posto de Salvamento, aguardando a “viatura” para ir à delegacia por desrespeitar o salva vidas. O cabo era meu conhecido chamava-se Santana. Depois de uma longa explicação que era um novo esporte, que o Di Renzo era da Seleção Brasileira de Natação, que eu era nadador também, Santana liberou a prancha e o Di Renzo. Surfar com uma caixa de fósforo era mais ou menos como dirigir um caminhão sem direção hidráulica. Você forçava uma manobra e danada da prancha obedecia lentamente. Como éramos preparados, fazer força não era problema. Problema era carregar a prancha. A prancha pesava 15 a 20 quilos e com água chegava a bem mais que isso. O Di Renzo morava no Edifício Uiqueend (assim mesmo!) e na ida à praia era uma beleza, podíamos carregar a prancha sozinhos. Mas umas horas depois, ela encharcava. A gente a colocava em pé, removia um tampão de ferro galvanizado com rosca, aguardava a água sair. Mesmo assim, a volta era muito complicada devido ao peso e ao cansaço. A rapaziada mais nova que frequentava Itararé começou a improvisar com madeirit “emprestado” das construções e, aos poucos foi desenvolvendo tecnologias próprias, que resultou em inúmeros sucessos e insucessos. O maior desafio era conseguir fabricar prancha de isopor de modo que a resina não atacasse quimicamente esse material. Apareceram então os irmãos Argento, o Chico e o Zé Paioli, o Fernandão Mitelmann, Eduardo Cocó Fangiano, Nei Negão, Nei Sobral, Fernando Quizumba, Longarina, Odemar Timó, Frank Retz, Miron, Italiano e outros. Em um dia de chuva, quase ninguém surfando, aparece o Manoel dos Santos e o Jô Hirano com uma prancha de fibra de vidro cada um e caíram na água. A partir daí quase todos finais de semana os dois vinham de São Paulo. Em seguida demos um modelo de prancha da marca TIKI para a Glaspac e cada um de nós obteve sua própria prancha. Começaram a frequentar Itararé alguns amigos de Santos que já haviam resolvido seu problema de ter prancha, o Eduardo Piolho, muito amigo nosso, vinha sempre ao Itararé e foi se aprimorando. Eu e o Piolho ficávamos no fundo muitas vezes tentando só pegar ondas “perigosas”, sem medo de levar grandes vacas. Era uma maneira de se preparar para situações complicadas. Através dele ficamos sabendo que vários amigos de Santos já estavam surfando bem, entre eles Tuco Mariani, Alan Jerico, Marques, Miguel Alemão. O Homero já fabricava suas pranchas, o Miguel, o Bruce e outros também.
Por hoje é só
Paulo Miorim 31/01/2019