Nem sei...nem sei...

Caminhando na tarde quente de Aracaju, pelo Calçadão da Laranjeiras, ouvi dois homens conversando. Este vai ser o maior governo do Brasil. Entalada. Já imaginava. Me fiz de tolona, recuei um passo e me dirigi a eles. De quem vocês estão falando? Claro que eu sabia. Todos dois inscritos socialmente como pardos e pobres. O que dizia da grandeza do governo atual, um vendedor de coco e o outro, um vendedor de meias e bermudas de dez reais. Dois pobres de Cristo. Como poderiam dizer algo assim? Teremos o pior de todos os governantes. Pronto, o vendedor de cocos se aprumou, imaginem, para me dar uma aula sobre Comunismo, Socialismo, Democracia e Capitalismo. Enveredou por outros campos e começou a falar sobre ser professor. Nem sei como não tive um treco. Para o palestrante, o professor passa seis meses em greve, não ensina mais português e nem matemática. Tem que o professor ser fiscalizado por câmeras em sala de aula! É brincadeira uma ousadia desse tamanho? Sobre Capitalismo me disse que dá oportunidades e que ele mesmo é um exemplo, pois que já tem um carrinho de coco e que vai começar em um Uber. Como será que esse rapaz tem um carro? Teria sido um milagroso resultado esses poucos dias bolsonarianos? E continuava a preleção enquanto instigava o outro me acusando de comunista. Dá pra ter paciência? Queria mesmo era saber se ele também ousaria dizer que os médicos devem ser monitorados por câmeras. Será que ele tem amor à vida? Será o caso de que ele queira câmeras nos gabinetes militares que é pra gente ver o que eles fazem? Nas reuniões secretas da Maçonaria? Nos gabinetes dos juízes, desembargadores, procuradores de justiça e dos Ministros de Estado? Melhor eu resolver na minha cabeça que esses dois vendedores de coco e de meias e bermudas que eles não estão bem do juízo. Assim, eu professora, sofrerei menos. O oprimido defendendo o opressor, não é Paulo Freire?