Soterrando o operário em construção
Escutamos o prenúncio do trágico desastre humano e ambiental da Usina do Vale do Rio Doce, em Brumadinho (MG). Tudo já estava avisado, em muitos e tantos textos literários, denunciativos da supremacia do lucro sobre a segurança da vida humana. Estava recitado na poesia de Vinicius de Moraes: “Operário em construção”; cantado em “Construção”, de Chico Buarque. Tais poetas dizem como acontece aos trabalhadores: ajudam a lucrarem, mas desprotegidos, voando, caem dos espigões no asfalto, “atrapalhando o trânsito”.
Telefonou- me o amigo François Rosendo Rodrigues: “tragédia contra a vida não merece silêncio”. Deve ser denunciada pela fala, pela canção, pela poesia, enfim pela arte. Os artistas, tão sensíveis à manifestação do que é belo, devem também sensibilidade para enxergar as injustiças do quotidiano no mundo do trabalho. Sei que a arte, quando grita no lugar dos que são calados, incomoda. Mas essa é sua função social, inclusive de quem escreve.
A lama matou Miraí em 2007; voltou a matar Mariana em 2015; e como nada temesse, voltou a atacar agora, em 2019, Brumadinho, escorregando de montanha abaixo como uma enorme serpente, derrubando as casas como um tsunami; sufocando todas as idades, famílias inteiras, das crianças aos velhos desprevenidos. Esquecer o que repetidamente ocorreu contra a vida significa perder de vista, abrir mão para que tudo volte a acontecer, como se fizéssemos parte de um país de gente que tenta escapar de cair, porém correndo em direção ao abismo. Recorda-nos o poeta T. S. Eliot: “Num país de fugitivos, aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo” ... Proximamente, de onde partirá a lama que nos persegue? Tudo aquilo é lama ou apenas lama é o seu nome? Ela gosta de repetir aquilo de que gosta, mas por que tolerar a repetição daquilo que nos trucida? De novo, a lama desliza matando; visita da sala à cozinha; volta à terra já visitada, tocando, palmo a palmo, os mesmos lugares, insultando a prudência e a previdência dos que se cuidam; sem coração, soltando o prazer da repetição e o mal cheiro pelos mesmos ares.
Escutamos o prenúncio do trágico desastre humano e ambiental da Usina do Vale do Rio Doce, em Brumadinho (MG). Tudo já estava avisado, em muitos e tantos textos literários, denunciativos da supremacia do lucro sobre a segurança da vida humana. Estava recitado na poesia de Vinicius de Moraes: “Operário em construção”; cantado em “Construção”, de Chico Buarque. Tais poetas dizem como acontece aos trabalhadores: ajudam a lucrarem, mas desprotegidos, voando, caem dos espigões no asfalto, “atrapalhando o trânsito”.
Telefonou- me o amigo François Rosendo Rodrigues: “tragédia contra a vida não merece silêncio”. Deve ser denunciada pela fala, pela canção, pela poesia, enfim pela arte. Os artistas, tão sensíveis à manifestação do que é belo, devem também sensibilidade para enxergar as injustiças do quotidiano no mundo do trabalho. Sei que a arte, quando grita no lugar dos que são calados, incomoda. Mas essa é sua função social, inclusive de quem escreve.
A lama matou Miraí em 2007; voltou a matar Mariana em 2015; e como nada temesse, voltou a atacar agora, em 2019, Brumadinho, escorregando de montanha abaixo como uma enorme serpente, derrubando as casas como um tsunami; sufocando todas as idades, famílias inteiras, das crianças aos velhos desprevenidos. Esquecer o que repetidamente ocorreu contra a vida significa perder de vista, abrir mão para que tudo volte a acontecer, como se fizéssemos parte de um país de gente que tenta escapar de cair, porém correndo em direção ao abismo. Recorda-nos o poeta T. S. Eliot: “Num país de fugitivos, aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo” ... Proximamente, de onde partirá a lama que nos persegue? Tudo aquilo é lama ou apenas lama é o seu nome? Ela gosta de repetir aquilo de que gosta, mas por que tolerar a repetição daquilo que nos trucida? De novo, a lama desliza matando; visita da sala à cozinha; volta à terra já visitada, tocando, palmo a palmo, os mesmos lugares, insultando a prudência e a previdência dos que se cuidam; sem coração, soltando o prazer da repetição e o mal cheiro pelos mesmos ares.