A Vida, A Morte e a Fotografia no Tempo

Olhando imagens antigas. Fotografias, memórias empoeiradas, o fundo do baú é preto (deve ser uma referência ao fundo observável do Universo). Lá a gente guarda o que já não mais deve ser acessado a qualquer hora, pelas lembranças que, vindo à tona, podem nos afetar de modo imprevisível. Melhor deixar tudo lá.

Olhando para trás. O Tempo é uma ilusão para nos servir como alguma referência. O passado somente existe enquanto conceito; já não o é; o presente somo nós e a soma de tudo o que existe. O eterno é o que pode ser citado e lembrado a qualquer momento. O pretérito é melhor ficar para trás. Não pode ser carregado. Não serve mesmo para mais nada. O tempo está a nos enganar.

Olhando para todos os lados. A soma de todas as lembranças não dá conta de nos impressionar. Não há um lugar onde possam se tornar reais. O tempo já não interessa mais. "O futuro [já] não é mais como era antigamente", diria o cantor da Legião Urbana. Urbi et orbi, o tempo não para/passa. Apenas se [...]

A moça envelhecera até seus 133 anos na novela. O trabalho dos responsáveis pela maquiagem é um primor. Tocar seu rosto com seus olhos provoca uma sensação de encarar um mistério do Universo. Mas sem palavras para descrever essa leitura. É como se fosse um todo único, não havendo mais nada nem ninguém para prestarmos atenção. Ela olha para seu amado, Samuel, mas é como se olhasse para nós; um arauto feminino do Tempo. Ali há um Sinuhe [quem leu "O Egípcio", de Mika Waltari, vai entender o que estamos dizendo] que reaparece e afirma ter vivido em quem nasceu antes e depois dele; ali há um pedaço da essência dos séculos que, em sua forma de véu, desprende-se e se permitir ver, por alguns instantes eternos. Os tons de cinza, clarinhos, o branco da cena, dos cabelos, da intenção em referenciar a eternidade desses espaços em branco; o branco das entrelinhas de todo e qualquer texto acerca do tempo; a impossibilidade de se versar sobre alguns assuntos demasiado complexos (como uma tentativa de tecer uma crônica sobre o Tempo e sua relação com a vida humana). A cor branca: nua, límpida, pura, penetrante. O improvável e o impossível. O que foi, é e será. O Eterno. A Indivisbilidade. O núcleo do núcleo do núcleo do átomo (o que pode haver dentro dos assim chamados "Quarks").

Entre o início e o meio dos anos 90 eu tinha escrito "Não cantado" (tradução muito apressada e grosseira de "Unsung", cujo sentido real é "Não citado"). Era um texto essencialmente marcado por indagações minhas. Cito-o para ter algum sentido aqui e agora. São tantas perguntas. São poucas as respostas.

Talvez seja bom não voltarmos no Tempo, leitor(a). Porque isso traria gravíssimos danos a todos os envolvidos.

E, voltando à proposta original dessa crônica, a ação temporal irá, com efeito, amarelar cada vez mais a imagem fotográfica impressa em papel dessa natureza. Talvez o fixador não seja assim tão poderoso. Ou as fotografias também tendem a morrer...