CALOR MUNDANO

O sol estava a pino, incontrolável e ao mesmo tempo sutil, menosprezando os seres desfigurados no asfalto quente. A brisa que dobrava a esquina, mais parecia um ventilador antigo, soprando dizeres aos ouvidos dos transeuntes desfigurados pelo calor mundano.

Sorrateiramente, no arbusto verde da Praça da Estação, um menino faminto, se deleitava com restos de comida. Apenas um garfo de plástico quebrado e um marmitex consumido pelas moscas no dia anterior. Em frente à cena, uma senhora enojada procurava os trocados que não foram devolvidos na padaria. Ao lado, um homem que contava as moedinhas prestes a entrar na porta do prostíbulo da Rua Paraná, trombara num poste de luz. As moedas que dão pão e prazer se perderam.

Diante do calor mundano, a senhora com a sacola de pão caminhava lentamente, o homem com as moedinhas que sobraram tomava cachaça no boteco, enquanto o menino começava a mascar a carne esverdeada e bicava a água da fonte luminosa.

Osório Antonio da Cunha
Enviado por Osório Antonio da Cunha em 17/09/2007
Código do texto: T656312
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