Lembranças
Aquelas árvores majestosas jamais saíram de minha memória. Quantas vezes as escalava com grande esforço e as transformava em verdadeiras casas. E, lá de cima, me sentindo superior a tudo e a todos, gastava horas e horas, sem ao menos sentir o tempo ir embora. Não importava se me machucasse ou lá de cima caísse. A aventura e a emoção de possuir um cantinho só meu, no qual me divertia e me sentia a criança mais feliz do mundo, compensava qualquer risco. Bons tempos eram aqueles. Minha única preocupação era me divertir.
E as minhas bonecas, então? Fiéis companheiras nos momentos de solidão. Pra elas eu falava tudo o que quisesse. A resposta era sempre um maroto sorriso nos lábios e um brilho constante em seus redondos olhos inocentes. Jamais discordaram de mim, mesmo que eu falasse palavras proibidas ou grandes segredos. Já nos dias de hoje, preciso medir com perfeição a intensidade de qualquer palavra que pense em proferir.
Sinto saudades até mesmo de quando ajudava minha querida e indispensável babá a estender as roupas no varal. Alcançava os grampos pra ela e, ao mesmo tempo, observava as gotinhas brilhantes que escorriam das vestimentas, que, aos poucos, secavam com o vento e com os brandos raios de sol. Em meio a essas lembranças, quase caem lágrimas de meus cansados e saudosos olhos. Lágrimas essas, que me lembram essas antigas gotas que caíam das vestes e formavam poças divertidas no chão da minha feliz infância.
Eram tantos sonhos e liberdades. Não poderia faltar um balanço. Eu sentava naquela cadeirinha, que, para mim, era um trono de rainha. Voava como um pássaro livre. Às vezes, meu chinelo escorregava, ultrapassava o muro e caía na calçada. Corria pra buscá-lo, com medo que alguém pegasse. Como eram ingênuos e inocentes os meus medos.
Aqueles eram mesmo bons tempos. De inocências e descobertas. Belas lembranças, que fizeram parte da minha formação. Tudo o que sou hoje, devo a minha infância sonhadora. Meus brinquedos, minha casa, meus ursinhos de pelúcia, meus amiguinhos. Se eu pudesse voltar a ser criança, gostaria de ter tudo aquilo novamente, sem tirar, nem pôr. Gostaria dos mesmos sentimentos, das mesmas intensidades, das mesmas belezas.
Sou feliz pelo que fui, pelo que sou e pelo que serei algum dia. A simplicidade da vida é nossa maior riqueza.