ADALBERTO MARIANI, INESQUECÍVEL!

ADALBERTO MARIANI, INESQUECÍVEL!

A justa homenagem de denominar Adalberto Mariani a nova piscina da Praça Rebouças me fez lembrar de uma pessoa maravilhosa: o homenageado.

No período de 1963 a 1967, a nossa equipe de natação do Clube Internacional de Regatas era imbatível na região. Orientada pelo querido e saudoso Adalberto Mariani, que fazia questão de ser da nossa turma como se fosse da mesma idade, chamando cada um de nós pelo apelido, os treinos eram em muito suavizados pela simplicidade que Bebeto (apelido carinhoso que nós o tratávamos) nos transmitia seus conhecimentos de um esporte maravilhoso. Como ainda não aprendemos a voar sem aparelhos, a Natação é o único esporte praticado em outro elemento sem ser apoiado em terra firme que o indivíduo conta somente com o seu corpo para praticá-lo. Adalberto possuía uma capacidade de nos liderar com tranquilidade e tinha sua autoridade reconhecida por nós. Muitas vezes era duro na bronca e ninguém contestava suas posições. Contando isso até o vejo falando:” -Oh Camelo Doido bate essa perna!” “-Guran, enfia o braço na água com vontade!” “- Caramanduca, essa puxada está devagar!” e outras orientações que fazíamos o possível para cumprir. Ele subia a escada da piscina, empurrava o portão de canos galvanizados, vestindo shorts e camisa de mangas curtas, carregando um cronometro e um apito no pescoço. Ninguém tinha medo ou “enganava’ o treino, pois era um ambiente de camaradagem, de confiança mútua entre comandante e comandados. O treinamento se desenvolvia de modo tranquilo, mesmo nos dias mais puxados. Adalberto inventava uns eventos que nos motivavam: Decatlos de natação, nadar 500km em 3 meses. Em 1966 Adalberto inventou que nós tínhamos a obrigação de ganhar todas as provas do Campeonato Santista de 1966, o que não era fácil, pois o C.R. Saldanha da Gama tinha excelentes atletas e foi um desafio que não conseguimos cumprir. Após cada prova, íamos direto para o pequeno ambulatório do clube inalar oxigênio para recuperar mais rapidamente, porque cada um nadava o maior número de provas possível. O José Eli, Duda, era auxiliar do Adalberto, e escalava as séries de cada prova. Acho que foi o mais demorado Campeonato Santista da história, chegou a ter quatro séries na prova de 1500m livre. Coisas do Adalberto.

Certo dia, Adalberto apareceu com um hipnotizador na piscina. Queria testar a influência psicológica no desempenho dos nadadores. Escolheu o Marcino, que nadava borboleta e aceitou ser cobaia. O cara balançou um pêndulo e, falando mansamente, fez o procedimento de hipnose. Marcino fechou os olhos, e o camarada perguntou qual era o seu melhor tempo nos cem metros nado borboleta. Marcino respondeu, e o sujeito ordenou que ele fosse nadar e abaixasse 6 segundos da sua marca. Notei, ou senti, que nosso companheiro engoliu em seco mesmo hipnotizado, e partiu para a piscina. Se colocou na baliza e, sob o comando do Adalberto, deu uma saída e nadou os cem metros. Na hora de conferir o tempo, ele havia obtido 6 segundos a mais do seu melhor tempo. Nunca mais vimos o hipnotizador. Em 65, Adalberto prometeu que, se ganhássemos a Travessia do Canal a Nado como melhor equipe, daria a cada um dos cinco primeiros do clube uma medalha de prata e ouro. Tenho até hoje essa pequena medalha de prata com o centro em ouro, entregue pela diretoria do clube. Às vezes Adalberto inventava competições internas aos domingos e a gente passava o dia no clube. Certa vez escolhemos que o almoço seria pizza com guaraná. Fizemos uma competição para ver quem comia mais pizza e bebia mais guaraná. O Tuco, filho do Adalberto ganhou. Se bem me lembro ele comeu dezessete pedaços de pizza e bebeu onze guaranás. Em 1967 nadei em uma prova de revezamento na segunda equipe e entreguei em primeiro lugar. Ao final da prova quase ganhamos da equipe principal, pois havia baixado meu tempo em uns três segundos nos cem livre. Adalberto reclamou por que eu não havia avisado dessa melhora. Respondi que fazia três meses que eu estava surfando todos os dias e não sabia que ia baixar o tempo. Sai de Santos e voltei depois da faculdade. Encontrei Adalberto umas duas ou três vezes. Nos deixou, mas sempre será lembrado. Sua simplicidade, sua simpatia, seu bom humor mesmo nos momentos mais difíceis foram lições que levo para a vida. Onde estiver, Adalberto deve estar ensinando anjos a nadar.

Santos, 28/01/2019.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 29/01/2019
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