AS PALAVRAS QUE EU GOSTARIA DE TER DITO,
                                                            NAQUELA NOITE DE 12/04/2005

Foi uma noite memorável para mim e para todos os meus irmãos.                 Já se passaram quatro dias, mas eu continuo pensando naquele momento, nas palavras que eu deveria ter dito e não disse.  Procuro saber o motivo. Será que foi porque me chamaram para sentar junto dos atores e fiquei constrangida, bloqueada? Ou será que eu estava muito emocionada e fiquei me segurando para não desmontar? Ou será porque eu não sabia bem o que era um debate e fiquei na expectativa? Será que vão debater o texto, o autor, a encenação ou o projeto “Tudo é teatro” da Giulia Gam, que estava ao meu lado?  Senti-me lisongeada, mas ao mesmo tempo fora de controle, então me desarmei, relaxei e aproveitei o momento como se diz, mas confesso que perdi o controle da situação no que tinha planejado.                                        Todos foram tão simples, tão amigos, tão acolhedores que me senti desconcertada, insegura naquela situação tão alvissareira. Por isso a frustração que sinto, pensando não ter correspondido à pessoa do meu pai, naquela noite tão especial para todos nós.                                                  Nesta madrugada do dia 17 de abril ao escrever estas linhas, tento verbalizar estes sentimentos que me machucam. Desde o dia que o Gugu me comunicou que o Projeto “Tudo é teatro” da Giulia Gam iria fazer uma leitura de uma peça do Vô, que eu fiquei surpresa, emocionada e muito feliz. Só acreditei mesmo quando a Lara da Produção me telefonou pedindo uma cópia do original. Então pensei: valeu a pena ter editado os livros nºs 1 e 2 (falta o 3º) com todas as peças escritas por ele. Será o primeiro fruto desse trabalho. Na vida nada é por acaso. Deus aproveita sempre a nossa pequena oferta (lembram-se dos cinco pães e dois peixes?) para multiplicar, como Ele
 deseja.  Pensei em fazer convites formais, mandar pelo correio para todos os parentes, amigos e conhecidos. Mas, apenas convidei, dividindo os telefonemas com a Zezé. Depois perguntei ao Gugu, como seria esta leitura? E ele me disse que ficariam sentados, lendo. Mas já era uma grande coisa. Todos os presentes escutariam os pensamentos, as idéias do Vô, expressados nas vozes que dariam vida aos 24 personagens. Os netos que não o conheceram, passariam a conhecê-lo... Os próprios filhos, genros, noras, agora com mais idade, com certeza, o veriam de outra forma, com outro olhar, outro sentimento.                                                                          Na semana anterior àquela noite, comecei a pensar que deveria, no final da apresentação,  fazer um agradecimento aos atores e à produção. Imaginei a cena: após os aplausos, eu pediria a palavra, levantando a mão ou falando, desceria até o palco e faria um pequeno discurso, entregando, talvez umas flores... Mais alguns dias e eu já pensava diferente. Junto com a irmã Zezé, escrevi um texto falando um pouco da vida do Vô, agradecendo a todos e ainda coloquei uma foto dele com a Vó Dida. Fiz cem cópias para distribuir a todos os presentes, parentes ou não. E no dia 12 de abril, no fim da manhã, perto do meio dia, lembrei-me de mandar umas rosas vermelhas para a equipe de produção do evento e atores, juntamente com 10 folhas do texto e um cartão. A Lara da Produção me comunicou que reservara 30 senhas dos 80 lugares do Mezanino onde seria apresentada a leitura. Eu e Zezé fizemos duas relações: uma dos que chegariam cedo para pegar as senhas e outra dos que chegariam em cima da hora. Nossos convidados somaram 48 pessoas. Mas na realidade compareceram 36 pessoas. E uma simples leitura se tornou uma festa, uma pequena “grande” homenagem a ELE, que no dia 22 de abril completaria 93 anos de vida. Do céu, onde eu tenho a certeza que ele está, ele deve ter rido muito (é um gozador) porque seu nome continua saindo com erro, bem como o nome da peça, tanto no painel luminoso na frente do SESC-Copacabana como nos encartes da programação mensal de abril. O certo seria: Deucyles Cancio Pereira Soares e “Ele sabe tudo, não adianta mentir”.
Compareceram no dia nove filhos: Terezinha e Antonio, Nilda Maria, Joaquim e Sextil, Maria Antonia e Júlio, Maria José, Maria de Fátima e Jarbas, Carlinhos, Conceição e Eduardo, Penha e mais nove netos: Antonio José, Rosa e Gerson, Luis e Rosana, Gugu (ator) e Thais (atriz), Pedro e esposa, Paulo Leonardo, Paula, Carlos Vinicius e Glorinha. Também estavam presentes: Tia Zel, Marta, Esmeraldina, Ramon (que digitou os dois livros) e Bárbara, Lourdes e Victor e uma amiga da Maria Inês, chamada Maria Helena. As senhas distribuídas na bilheteria se esgotaram e uma fila de espera se formou aguardando as desistências dos nossos convidados. A Equipe de Produção teve uma acolhida muito especial à minha pessoa tanto quando reservou três lugares na primeira fila para os mais velhos da família (eu, Antonio e tia Zel) como também quando esperou, com delicadeza e paciência, a devolução das senhas não usadas, que foram em número de oito, até o início da leitura.                                                                            Eram 19.45h, subimos, muitos fotógrafos registrando a entrada dos atores, além dos da família. E aí, veio a grande surpresa da noite. Gugu coordenou o trabalho dos atores: Bruno Garcia, Cláudio Mendes, Emílio de Mello, Simone Spoladore e Thais Tedesco, além do próprio, que se revezaram dando vida aos 24 personagens da peça. Mas eles não fizeram só uma leitura, eles foram além. Fizeram movimentos, pequenos cenários, usaram roupas, perucas, recursos de som. Foi um verdadeiro show. A platéia se divertiu muito, o tempo todo, pois o texto apresenta uma grande variedade de tipos humanos em situações grotescas, vivendo uma realidade fantasiosa, diria mesmo, transcendental. O trabalho dos atores foi, realmente genial, magnífico. Imaginem que eles tomam conhecimento do texto duas horas antes da apresentação. É inacreditável! Haja talento!... Parabéns mais uma vez a todos.                                                                                                                  Eu gostaria de dizer, também, que Papai sempre lutou para ver suas peças encenadas. Ele participava de todos os concursos de peças teatrais da sua época. Ele escreveu 14 peças. A primeira, em 1931, com 19 anos e a última, em 1976, com 64 anos que foi a escolhida para esta noite. Nos últimos dez anos de vida, ele não escreveu mais. Perguntaram nesta noite o porquê. Não soube responder. Mas suponho que deve ter sido por causa da fase dos dez anos da doença da mamãe. O sofrimento bloqueia a inspiração, com certeza. Ela era sua musa inspiradora.                                                                          As peças com maior destaque foram: “Vidas Falsas” que foi aceita pela Cia Jaime Costa. “O Ministro não se vende...” pela Cia Procópio Ferreira e “Um ladrão na Família!...” pela Cia Zaquia Jorge – Fernando Vilar. Sendo que o Ninho do Pecado” foi premiada pelo Serviço de teatro Nacional, em 1974, através de realização de concurso. Este sonho do nosso pai, seu avô, e, também, da nossa família, você GUGU o realizou. Não importa que tenha sido 19 anos após seu falecimento. Você mesmo relatou, com emoção, que sentia um bloqueio com relação às peças do Vô e que agora, graças a Deus, deve estar superado. Vô Ducy, naquela noite, estava muito presente falando para todos, da sua fé em Deus, da sua esperança no homem, do seu amor e compreensão pelos pequeninos. Ele falou para todos que a vida é um dom de Deus, que "E LE S A B E T U D O, N Ã O A D I A N T A M E N T I R".             Que Deus abençoe a sua vocação Gugu e a da Thais, bem como a de todos os outros. E os ajude a serem muito felizes!...                                                                                 M U I T O O B R I G A D A,  S U A M Ã E
              Rio de Janeiro, 17 de abril de 2005, às 3, 45h da madrugada
Terezinha Domingues
Enviado por Terezinha Domingues em 28/01/2019
Código do texto: T6561326
Classificação de conteúdo: seguro