Perdão

Há algum tempo que não sento calmamente para escrever, e peço perdão aos que gostam de ler minhas composições, e aos que não gostam também. Aliás, estes últimos são uma parte motivadora do processo de crescimento. Opositores - educados -, serão sempre bem vindos. Continuando, a vida tem trazido desafios um tanto difíceis de engolir e, provavelmente me perdi no senso comum da apatia, mas nesses dias tenho visto, lido e presenciado atitudes de pessoas estranhas que me têm feito refletir sobre meu lugar no mundo. Uma mistureba de informações desconexas e surpreendentes, que me chocaram.

Por estar inserida no mundo comum (e não no Nepal), inevitavelmente fui, digamos que seduzida, pelos comentários e percepções pregadas diariamente pela massa: violência, armamento, situação econômica, família, transporte, doenças, estereótipos... Enfim, uma gama de circunstâncias que roubaram o foco de mim mesma, dos meus sonhos, do meu querer, dos meus projetos e de onde pretendia estar daqui a alguns anos.

Como já passei de meio século de vida, a projeção do meu futuro é mais limitada, e não poderia me dar ao luxo de parar, ou melhor, estagnar na inércia expectadora zumbificada na qual me prendi. Penso que seja algo que aflige a um número exponencial de pessoas pois, se nos falam do cinza todos os dias, nos aromatizam com o cinza, se nos permitimos ingerir coisas acinzentadas, tendemos a enxergar o cinza aonde quer que formos. Não acham?

Dentro desse contexto, e salvo as devidas proporções, tive lapsos de criatividade que acabaram postas de lado na correria. A inspiração que costumava vir me visitar todo fim da madrugada, foi cedendo lugar para aqueles dez minutinhos de sono estrategicos no despertador do celular. Um luxo que não pode ser ignorado para quem tem a obrigação de acordar, todos os dias, às 4:30h. Contudo, esse acordar, ignorar, sobreviver e voltar a dormir, acabou por me jogar ao chão. Não pensem que já saí dele, apenas tenho feito um esforço hercúleo para me apoiar em alguma superfície mais sã e me erguer, aos poucos.

O processo da queda é algo que vergonhosamente permitimos, mas temos atenuantes. As vezes não vemos saída e somos forçados a ceder. Olhar para os lados passou a ser uma fresta por onde uma brisa fresca de sanidade apareceu, e esta foi apreciada e lentamente degustada com uma xícara de café fumegante. Pois bem, numa fresquinha dessas, ampliei meu leque e dei chance à leitura de alguns artigos que vinham me provocando há algum tempo.

Observei e observo que filósofos, intelectuais e pensadores da atualidade (Clóvis de Barros, Leandro Karnal, Cortella, entre outros), têm feito um trabalho razoável nesse sentido e sucesso invejável ao discorrerem sobre o comportamento humano, a política e demais assuntos excitantes em palestras milionárias. Entretanto, alguns não tão popularizados como Bauman e Domenico de Mazi, vêm fazendo cócegas no meu cérebro e brincando com fragmentos de Foucault perdidos dentro da minha cachola. Quero crer que não sou a única a achar que essa inconformidade opressiva e cáustica, que nos envenena e nos torna expectadores do nosso infortuno diário e do alheio, fazendo bulling com nossos sentimentos mais crus, não seja por mero acaso da nossa "evolução". Tenho sido convencida diariamente de que estamos sendo doutrinados para não termos escolhas há um par de séculos, com o objetivo primo de ficarmos sem reação perante as sacanagens impostas.

Como cheguei a essa conclusão? Simples, passei a olhar para os lados e não aceitar a primeira resposta, a primeira informação, a primeira cena das coisas como algo definitivo. Passei a investigar, a não ficar presa nas manchetes, mas me permitir a ler as matérias na íntegra e a procurar novas fontes para refletir sobre os conteúdos obtidos, ainda que escrava do tempo.

Uau! Que revolução, não?!? Não! Apenas lubrifiquei minhas sinapses e agora elas estão fazendo um terrorismo comigo, por não ter muitos com quem discutir esse acervo e muito menos com dispostos a mudanças efetivas de comportamento.

Muita gente não tem o hábito de ler, e nem falo da leitura ortodoxa dos livros em alta, mas de ler qualquer coisa que lhe caia às mãos. A maioria não foi estimulada a esse hábito salvífico.

Portanto, concluí que existe uma “conspiração” para que a massa trabalhadora e produtiva fique presa à era da Revolução Industrial, quando já passamos da pós-modernidade. “Eles” não querem seres pensantes, contestadores e provocadores de mudanças e por isso forjam, a cada dia, novos soldadinhos acuados. O povo tem sido treinado para obedecer pelo medo opressivo da retaliação, por ideologias infiltradas desde o nascimento, ou por ser idiota mesmo.

Tá, e para que serve tudo isso? Para que continuem a produzir o máximo pelo mínimo e sem contestação. Já pensou se a massa fosse convencida de que é forragem para pasto? Já pensou em uma massa consciente, educada e legitimamente revoltada? Pois é! Faríamos um estrago!

É por isso que afirmo, sem sombra de dúvidas, que o demônio encarnado - o "Luci" -, está nesse imbróglio.

Um grupo seleto vêm manipulando líderes em todos os níveis e agindo livremente na nababesca obscuridade produzida e sustentada por nós.

Isso não é de Deus e, por assistir a tudo isso por séculos e séculos sem expectativa de um fim próximo (e sem muitas baixas), talvez ELE tenha se cansado de nós.

A coisa é tão sutil, que a máquina do mal passou a funcionar sozinha e são poucos os que conseguem fugir dela. Estes poucos são exatamente os que têm atitudes espontâneas louváveis, que nos alertam e espantam por sua lucidez e eloquência ou por tamanho altruísmo que chegamos às lágrimas e aplausos inflamados. São os gênios que viram notícia de capa, os que tem atitudes nobres, os heróis urbanos. Coisas que deveriam ser encaradas com naturalidade e comuns a todos nós. Atos de honestidade, bondade, generosidade e heroísmos são necessários à preservação e verdadeira evolução da nossa pobre e ignorante raça humana.

Aqui no Brasil, fomos os últimos a sair da nefasta escravidão, onde poucos dominavam muitos pela força, opressão e subjugação, a despeito da carência, do mínimo à sobrevivência.

O trabalho braçal foi substituído por máquinas ao longo dos tempos, mas os donos das máquinas nos reduziram a menos que elas, sujeitando-nos a viver por elas, para elas e por meio delas. Impuseram-nos a uma cruel ordem social, uma forma de escravidão 4.0/8K. Passamos a ansiar pelas máquinas, a querer servi-las e a possuí-las como fonte essencial de prazer e sucesso.

A maioria acredita que elas nos dignificam e nos significam como pessoas e, estarmos nesse contexto, nos torna seres plásticos, líquidos, amorais e imorais. Fomos conduzidos e acabamos chefiados por seres que, consciente ou inconscientemente se locupletam desse estado das coisas a qualquer preço, basta dar-lhes o estímulo certo. Isso é mais que terrível, e a horda de zumbis só cresce.

Os frustrados, deprimidos, ansiosos e paranoicos, são uma população que segue nesse paralelo, anulando-se, enchendo-se de opificantes e outros atenuantes (drogas, sexo, comida, beleza, jogos...), para suportar o mal que não conseguem lidar. Outros se submetem por necessidade de sobrevivência, e a maioria nem tem consciência do que os atingiu.

Entretanto, existe um movimento, que ainda é discreto em comparação com a massa perdida, mas que vêm fazendo sombra ao que nos incomoda. Porém, esse mesmo movimento que nos impele a uma tomada consciência, também se apresenta elitista. Dissemina a informação apenas para os que podem pagar por ela ou para os que possuem as mesmas máquinas que propiciam a tal acessibilidade.

Como sair disso? Ainda não sei, e por isso recorro aos meus colegas nesse Recanto, esperando um feedback para debater sobre o assunto.

São inúmeros os pormenores, os quais não pontuo para a leitura não ficar muiiito chata, e também por acreditar que só vi o cume desse imenso iceberg. Porém, agora que fui desperta, não ficarei tocando violino no deck vendo meu Titanic afundar.

Convoco, portanto, meus parceiros das letras, a um brainstorm profícuo que nos leve e eleve a um grau de iluminação reativa e pró-ativa.

Parafraseando o mestre A. Suassuna: “- O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser uma realista esperançosa.”

Rose Paz
Enviado por Rose Paz em 27/01/2019
Reeditado em 05/02/2019
Código do texto: T6560525
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