TRANSPARÊNCIA

E a semana terminou em TRANSPARÊNCIA...

Transparência é um princípio. Nunca valor. Princípio é relação ética de convivência. Valor é utilização, é meio e usufruto. Princípio é humano, coletivo; valor é individual, egoísta.

Princípio é sinônimo de lisura, de sinceridade que é sinônimo de honestidade e justiça.

Transparência é atitude em relação a uma determinada situação. É setorial: ou se tem ou não se tem. Não há meio termo. Só em ‘pós-verdade’ (distorcer propositalmente os fatos objetivos) que é a representação maior e mais mau-caráter que alguém pode assumir. As realidades são sempre aproximação, busca, tentativa de compreender uma situação (realidade); subvertê-la implica em dar ‘meia volta’ e andar para trás. A quem intencionalmente assim se comporta falta-lhe o desenvolvimento processual rumo ao desenvolvimento humano. Sabendo, é mau caráter mesmo; não sabendo, é ingênuo. Nem uma, nem outra são atributos humanos. O equilíbrio entre o ‘mau-caratismo’ e a ingenuidade promove o saber necessário ao avanço como humanos – sempre em evolução. Humanos somos ao evoluir no processo de superar a ingenuidade e nos desprender do caráter inadequado.

A transparência deveria ser entendida como princípio fundamental da vida em todas as suas dimensões. Se algo deve ser ocultado para preservar o progresso e avanço de realidades em constituição, que isso seja objetivado e depois de realizados os procedimentos, os dados e informações ocultadas claramente expostas e explicadas.

Na vida pública (política) e nas ciências concorda-se que em situações singulares seja necessária ‘evitar’ transparência para avançar em determinados campos. Viabilizar dados e processos para incautos pode prejudicar processos e seus resultados. Porém inviabilizar a transparência por algumas dezenas de anos é brincar com o senso democrático. Em governos e políticos, que sempre são representantes do povo, ocultar ou dificultar o acesso às informações em defesa própria é sempre algo imoral, injusto e antiético.

Como fenômeno discursivo relacional a transparência se expressa em forma de visibilidade confiável de fato e não por suspeita. Sou confiável para alguém quando este não precisa suspeitar ou desconfiar de mim. Não significa que confiança tem o mesmo significado de transparência. Como se diz no senso comum: sou transparente quando não tenho nada a esconder.

As relações humanas em seus diferentes âmbitos são complexas e cheias de proibições. Sobremodo nas esferas relacionais que não são públicas, políticas ou profissionais. Neste caso a transparência sofre com o medo, moralismos, crenças, tabus e outras situações. Não podemos ser ‘nós mesmos’ em todos os momentos. A psicanálise recomenda que isso é saudável e nos protege. Ser transparente, psicanaliticamente seria um desastre. Ninguém gostaria de ninguém.

Já na esfera profissional e todos os setores em que se devem explicações públicas do que se faz, a transparência é princípio fundamental. Neste sentido não há razão para sua ausência ou inacesso. Sua privação sempre leva a suspeita de que algo deve ser ocultado da comunidade. E se deve ser ocultado para ‘sempre’, significa que seu público envolvido não deve saber da realidade (‘verdade’).

Assim, desaparece de uma vez a corrupção, pois ninguém mais tem acesso a provas, dados e relações espúrias e também a desconfiança uma vez que a mesma está blindada pela falta de acesso a possíveis comportamentos inadequados.

Aos olhos do senso comum e metáforas discursivas cumpre-se o adágio: “o que os olhos não veem o coração não sente”.