Paulistano por ser Paulista

Paulistano por ser Paulista

Eu gosto de São Paulo porque nasci na Bela Vista, Maternidade Matarazzo, no final da II Guerra, quando os brasileiros lutavam na Itália. Morando na Alameda Santos, convivíamos com estrangeiros das mais variadas pátrias, numa harmonia impar. Fui educado para gostar desta Metrópole. Minha excursão sobre a cidade guiada pelo meu pai era cheia de recordações. Passeando pelo Largo de São Francisco, ele apontava a Escola de Comercio Alvares Penteado, dizendo-me aqui fiz o curso de contador. Mostrava-me a Faculdade de Direito onde seu cunhado e chara João, meu padrinho, havia bacharelado, entre muitos outros que participaram da história do Brasil. Na Praça da Sé havia meia Catedral, com suas escadarias e portais, faltando-lhe as torres e a cúpula que agasalhava o interior da igreja. Passando pela Rua Libero Badaró ele me mostrava o Prédio da Estrada de Ferro Paulista, dizendo que ali meu avô Abílio trabalhou até aposentar-se. Mas ele tinha outro emprego concomitante que era na Rua Boa Vista na Companhia Santista de Papel. Passando pela Rua XV de Novembro, avistávamos o Banco Comercial onde sua irmã Magdalena ali trabalhava sob a gerencia do seu cunhado Marcello. Chegando ao Pátio do Colégio meu Pai mostrou a Bolsa de Valores onde meu padrinho Tio João, aquele bacharelando da Faculdade de Direito era Corretor Oficial. Mas a nossa tournée não parava por aqui. Fomos até a Praça da República onde ele mostrou a Escola Normal onde sua mãe, vovó Minervina, ali estudou e lecionou, aonde viria estudar sua irmã Carolina e Glória, minha mãe. Uma parada para o almoço na famosa Salada Paulista, onde é servido maionese de batata e salsicha. Meu pai pediu a conta ao Garzon, e, ele prontamente tirou o lápis da orelha e fez a conta no mármore do balcão. Entrando pela Rua 7 de Abril, mostrou a Companhia Telefônica Brasileira, onde seu Tio Juvenal lá trabalhou até aposentar-se. Chegando à Rua Major Quedinho onde ficava o Jornal Estado de São Paulo, mostrou-me o prédio onde ele tinha um programa na Radio Nove de Julho do Circulo Operário nos fins de tarde.

Nossa vida religiosa frequentava a Igreja da Boa Morte, na Rua Do Carmo, onde ele estudou no Colégio do Carmo. E no mês de Agosto eu o acompanhava na Irmandade da Boa Morte, vestindo da Opa juntamente com os adultos. Não era diferente na Igreja Imaculada Conceição, onde meu pai participava da Irmandade do Santíssimo, vestindo uma Opa Vermelha. As procissões circundavam o quarteirão da Brigadeiro Luiz Antônio, Rua Fausto Ferraz, onde meu avô Abílio mandava instalar um Altar defronte a sua casa para uma benção e homilia. Continuando nesta rua, no número 86 ficava a casa dos meus avós maternos, donde avistávamos vovô Chiquinho e vovó Olivia no terraço.

Continuando a procissão entravamos na Rua Carlos Sampaio e virávamos na Rua Cincinato Braga, e terminava na Brigadeiro entrando no Santuário da Imaculada Conceição sob o Coro Azul, onde a maestrina era minha tia Conceição, irmã de minha mãe e administrada pela Tia Magdalena, como já disse irmã de meu pai. Nesta Paróquia foram registrados os batizados dos filhos dos meus pais, onde eles se casaram, e, onde também me casei.

Por ocasião no IV Centenário de São Paulo, muita coisa aconteceu, como a inauguração do Parque do Ibirapuera, a chuva de prata pelo sobre voo de avião que jogava triângulos de papel alumínio com os dizeres da festiva, iluminado pelos holofotes antiaéreos do Exercito, sob os auspícios da Laminação Pignatari e fogos Caramurus. Neste clima de Festa meus avós maternos celebraram Bodas de Diamante, na Igreja Imaculada Conceição, com Missas nos altares laterais e principalmente no Altar Mor com Missa Cantada, pelo Coro Azul. Uma festa pra ninguém por defeito, pois a casa deles foi coberta o quintal com lona decorada e muitas mesas ao redor da casa.

Muito embora meus avós maternos fossem Mineiros, com a politica do café com leito eles se davam bem mesmo com a Revolução de 1932 quando os paulistas a sós numa guerra sem armas, sem munições, sem alimentos nos seus bornais, prejudicados com as intempéries climáticas do inverno prejudicando a luta pelos ideais Constitucionalistas, contra ditadura de Getúlio Vargas. Mas São Paulo não se rendeu, e seus ideais se cumpriram com a Constituinte de 1934. Por isso eu amo São Paulo. Salve seus 465 anos de fundação.

Chico Luz

CHICO LUZ
Enviado por CHICO LUZ em 26/01/2019
Reeditado em 27/01/2019
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