Crônica sombria
Crônica sombria
Como posso ser bom? Como posso querer ser bom? Se o próprio Deus, nosso criador, diz que o coração do homem é desesperadamente corrupto? Isso me estremece. Já não sou digno dos favores de Deus. Posso morrer como um cão, aliás, ele mesmo diz que não tenho nenhuma vantagem sobre os animais. O que ocorre a um cão assim também a mim.
Nas vigílias da noite alguns meditam em muitas coisas. Eu? Em como miserável sou e que fim se dará a minha pobre, mas muito pobre condenada alma. Condenada pelos agravos dos meus delitos.
Bem aventurado o homem a quem Deus não imputa pecado. Mas, a quem o senhor não imputa?
A minha miséria é tamanha como tamanha é a minha iniqüidade quem me livrará do poder dessa morte?
Sou como esterco que aduba a terra ou menos que isso. Sou tão pouco, tão irrisório que serei banquete de algumas criaturas.
Minha estadia aqui é tão insignificante que é bem possível que o eterno não me considere. E porque considerá um infeliz?
Se os meus delitos me denunciam e dizem quem sou, acaso Deus será injusto se me condenadar a morte do inferno? Não. Será apenas fiel à sua justiça e eu terei a paga do meu trabalho. A morte pelo pecado.
Miserável homem que sou. Bem aventurado aquele que não se achar onde estou. Tomara eu esteja sozinho e sozinho perecerei após desfrutar as agonias preservadas àqueles a quem o SENHOR imputar pecado.
Louvo-te, SENHOR. Pois todo ser que vive te louvará mesmo que depois vá pro diabo que o carregue, pois te louvar é reconhecer que tu és Deus e que somente tu existes por existir. Fora isso, todos dependem de ti quer seja para viver ou para morrer, pois tens as chaves da morte e do inferno para de lá tirar a quem te convier e ou para lá mandar os que tu quiseres. Eu esperarei na tua salvação, mas me dou por satisfeito se me condenares, pois não tenho direito à vida senão a morte, portanto este é o meu quinhão por direito.
Se eu entrar nos teus átrios será por teu decreto, mas o que tenho por certo é a morte.
Muitos vivem sem nisso pensar e nem se preocupam, mas o fim vem. Eu prefiro crer que morrerei e que por certo perecerei, salvo se o rei levantar o cetro da salvação a mim antes que desça ao grande abismo de fogo. Enquanto não vir a tua misericórdia, contentar-me-ei com a minha miséria. O que posso dizer, SENHOR? Que me salves? Isso é para os que não imputas culpa. Mas eu? Coitado. Atolado até o suspiro na lama das minhas abominações, pois o desesperado do meu coração só produz a corrupção. Querer sair desse lamaçal é como colocar mais lama como pedestal. Como degrau. A medida que avança afunda.
Que coisa horrenda! Que coisa imunda! Salvas, SENHOR, os teus! Faz-me conhecer os teus e saberei o meu verdadeiro fim.
Professor Carlos Jaime