Um Quase Salto Pra Liberdade
Do lado de fora, o céu lentamente vai se desmanchando em uma tímida e nostálgica chuva. É inevitável não sentir aquele velho impulso de criança de ir para a cama e me refugiar embaixo do cobertor, enquanto imaginava mil e uma aventuras de inúmeros personagens com a minha ainda inédita alma de escritor. A verdade é que ainda continuo fazendo isso, mesmo a cadeira do trabalho não sendo tão confortável e mesmo sendo interrompido de três em três minutos. Penso que eu poderia saltar da janela, abandonando tudo o que estivesse fazendo naquele instante e partisse para uma vida livre e imprevisível. Sumiria do mapa. Compraria uma casa na praia e os bens que me restassem (na verdade, não seria quase nada porque não ganho tanto assim) seria dividido para meus amigos e família. Não precisaria concluir todos os semestres que ainda faltam da faculdade. Passaria os dias futuros convertendo a doce brisa do mar para romances excepcionais que salvariam editoras da falência e criariam um mistério em torno do escritor que jamais se apresentara sob os holofotes. Viveria com o que ganho dos meus escritos e terminaria a noite comendo peixe assado numa fogueira feita na praia, em uma noite de um céu enluarado. Vendo a chama se refletir nos olhos da garota que eu amo (se ela não achasse muito louca essa ideia de fuga repentina). Continuo pensando sob essas possibilidades. Respiro fundo e lentamente me aproximo da janela. Depois volto e me sento no mesmo lugar de antes, para terminar de digitar o relatório. O impulso de saltar para a liberdade era incrível, mas não muito indicado pro cara que trabalha no terceiro andar de um prédio no centro.