[Fatos e Trapos] TATI, A FÊMEA.

Tatiana era dona de uma sensibilidade intensa e imensa. Sua empatia transbordava em seus poros feito uma gota de suor que corre no corpo depois do sexo. Ela esbanjava o prazer em viver e sorria para todos, até para si mesma quando um espelho oportuno cruzava seu caminho.

Chamava atenção e fingia que não ligava, mas gostava. Dedicava-se a pequenas coisas, pequenos gestos e raros momentos. Ela não era o tipo de pessoa que via raso; seu olhar era profundo, ela olhava além do que estava na superfície e gostava de mostrar o que via através de fotos.

Ela escolhia um celular pelo megapixels, qualidade do zoom e tinha que ser ultra hd; uma máquina fotográfica era um item primordial na sua bolsa e, além disso, andava com uma pequena filmadora em full hd – do tipo espiã (sabe-se lá quando aquele 1 segundo que lhe dará um "Sony World Photography Awards" vai aparecer).

“Tati” gostava de fotografar o centro da cidade. As ruas lotadas ou desertas. Não ligava muito para as praças, apesar de sempre cortar caminho pelo Parque da Liberdade (a cidade da criança, em Fortaleza - Ceará) e imortalizar momentos de raros casais e crianças que apareciam por lá. Era boa nisso! Um exemplo?

A foto ampliada, individualmente, na parede principal do seu quarto: um casal, na ilha do amor (Parque da Liberdade), em meio a sorrisos e carícias - sonhando com o infinito e fazendo promessas com o “para sempre”, talvez. No canto inferior direito acúmulo de lixo, rachaduras e através de sua maestria no manuseio de programas de edição fotográfica tornou visível a lâmpada quebrada na luminária de jardim, acima do casal. Título da foto: Abandono.

É. Pesado. Deu para perceber que Tatiana não é do tipo que tem amor platônico, até a chegada daquela manhã de domingo. Naquela manhã, Tati conheceu outra Tati. Uma Tati que tem amor à primeira vista...

Ela fotografava e, como se fosse combinado, uma chuva forte tomou conta. Quem imaginaria que iria chover com aquele sol? E suas fotos e momentos? Seu celular ultra hd? Sua câmera espiã na orelha?

Quem é ele? Por que ele saiu de casa com um guarda-chuva? Quem faz isso com um céu limpo? No mínimo, alguém bem prevenido e... Atraente. Ele não perguntou seu nome. Ele não falou nada. Com a mão direita segurou o guarda-chuva e com a esquerda abraçou Tatiana, trazendo-a para mais perto do seu corpo, a protegendo da chuva, lhe dando calor e... Ahh!

Tatiana se sentiu tão segura, parecia estar em uma fortaleza e apesar de não parar de pensar na futura casa deles e nos filhos que iriam ter; o silêncio se manteve entre eles pelos 5 minutos de chuva que mais pareceram 5 segundos de tão bom que estava. Ela queria mais. Queria mais daquela segurança, daquele cheiro, daquela personalidade gentil, daquele romantismo todo...

A chuva passou. Ela deu um sorriso e foi perceptível que já o amava.

- Obrigada! - Ela disse.

Ele chegou próximo dela, sorrio e bem pertinho de seu ouvido falou:

- Gostosa!