DE FEIJÕES E DE GOIABAS
Quando adolescente, passei muitas férias de verão na casa de meus avós maternos, em cidade vizinha àquela onde eu morava com minha família. Vovó colocava uma porção de feijão preto sobre a mesa da cozinha e me pedia para retirar as impurezas e os feijões que fossem imprestáveis para comer. Eram pedacinhos de cascas de feijão, terra, carunchos, pedrinhas, etc. Minha tia Ely me ajudava nessa tarefa.
Eu ficava intrigada com a quantidade de carunchos que vinham no feijão. Minha tendência era retirar não só os bichinhos que apareciam, mas também aqueles feijões que apresentavam um buraquinho. Tia Ely me dizia: “Não retire os feijões que apresentam um orifício, pois destes o bicho já saiu.” E ela ria de minha inocência. Eu ficava a pensar: como vou identificar aqueles dos quais o bicho ainda não saiu?
Meu falecido marido, o Celso, fazia comentários e sorria quando eu recusava uma goiaba madura, alegando que tinha bicho. Ele me dizia:
“Está muito gostosa e o bicho é proteína, não faz mal a ninguém!”
Hoje, muitos anos depois desses fatos, fico a pensar: Não encontro mais bichinhos no feijão que compro no mercado e nem nas bonitas goiabas que compro na feira.
Chego à conclusão de que com tanto defensivo agrícola, com tanto veneno usado nas plantações, esses alimentos não têm mais bicho.
Aqueles feijões de minha adolescência eram plantados por vovô e as goiabas colhidas do pomar, plantadas por minha mãe. Tudo absolutamente orgânico, crescendo e frutificando ao sabor do sol, do vento e da chuva. E também das moscas, das lagartas, dos carunchos, dos passarinhos...
Hoje, acho muito pior o veneno.