(N)aquela aula...*

6º Ano. O professor de Português inicia sua aula com algumas perguntas sobre a Vida: suas fases e a sua relação com o tempo.

-- Boa tarde, Gente!

-- Boa tarde, Professor!

-- Gente, quando vocês ouvem a palavra "velhice", quais são as primeiras coisas que vêm à cabeça?

-- Cabelos brancos...

-- Reumatismo!

Risos interrompem as perguntas. O caos impera. Parece que aula... já era! Sem problemas, o professor solicita, de modo educado, que todos voltem a prestar atenção à pergunta previamente feita. Alguém lá no fundo diz, meio encabulado:

-- Coisa de velho. O sufixo -ice aponta para um substantivo ao qual pode atrelar-se ao adjetivo "velho", no caso abordado logo ao início dessa aula. "Coisa de velho"; "de ou próprio de que ou quem é velho". Definições típicas de um dicionário. O sufixo possui uma certa associação com conotação depreciativa, como em "maluquice", "feice" etc.

A sala se cala. De onde vens, Mocinha, com esse conhecimento metalinguístico tão atípico a alguém de tua faixa etária?

O professor, como a turma, se assombra. Não dá para acreditar nisso.

-- Como é que você sabe tanta coisa? Teus pais são professores?

-- Não. É que eles me incentivam a ler muitas coisas. E me aconselham a carregar um dicionário junto. O "Pai dos Inteligentes", ao contrário do que dizem. Mas se me for permitido fazer uma autocorreção, professor, "velhice" é uma fase da vida. Que ultimamente tem acometido mais pessoas jovens que idosos. Gente que não viveu tanto e já reclama da vida.

Uns instantes silenciosos permanecem. São interrompidos, de súbito, por intensas palmas.

NOTA

* Desejo dedicar essa crônica a uma ex-aluna de nome Tainá.