A velhice
A VELHICE
Cheguei numa idade de privações.
Não posso comer de tudo.
Ser moderado na bebida alcoólica.
Carência de exercícios físicos.
Sobre-peso e regime substancial.
Catarata, colesterol, ácido úrico,
Hérnia de disco, gordura no fígado.
Amigos envelhecidos, com as mesmas restrições.
Audição e visão prejudicada.
Porém, muita disposição para viajar, dançar, frequentar teatros, bares, ‘shows’.
Memória curta, engasgo alimentar, insônia, fastio alimentar.
Pelo visto já passei dos setenta, com um futuro curto e um passado longo.
Do quê adiantou guardar meus presentes para o futuro, quando o presente e o futuro não tem distinção?
Meu consolo é o papel e lápis, na (hora) agá da minha inspiração, quando eu brinco com as palavras, busco a grafia no dicionário e o sinônimo esquecido. Volto a minha adolescência escrevendo no diário, fazendo juras de amor, contando coisas engraçadas, criticando a juventude, o governo e a política. Isto é a melhor idade, sem fila, condução e passagem grátis. Meia entrada nos entretenimentos em carta. Malabarista com a aposentadoria do INSS. Sem falar no voto facultativo.
Chico Luz.