A velhice

A VELHICE

Cheguei numa idade de privações.

Não posso comer de tudo.

Ser moderado na bebida alcoólica.

Carência de exercícios físicos.

Sobre-peso e regime substancial.

Catarata, colesterol, ácido úrico,

Hérnia de disco, gordura no fígado.

Amigos envelhecidos, com as mesmas restrições.

Audição e visão prejudicada.

Porém, muita disposição para viajar, dançar, frequentar teatros, bares, ‘shows’.

Memória curta, engasgo alimentar, insônia, fastio alimentar.

Pelo visto já passei dos setenta, com um futuro curto e um passado longo.

Do quê adiantou guardar meus presentes para o futuro, quando o presente e o futuro não tem distinção?

Meu consolo é o papel e lápis, na (hora) agá da minha inspiração, quando eu brinco com as palavras, busco a grafia no dicionário e o sinônimo esquecido. Volto a minha adolescência escrevendo no diário, fazendo juras de amor, contando coisas engraçadas, criticando a juventude, o governo e a política. Isto é a melhor idade, sem fila, condução e passagem grátis. Meia entrada nos entretenimentos em carta. Malabarista com a aposentadoria do INSS. Sem falar no voto facultativo.

Chico Luz.

CHICO LUZ
Enviado por CHICO LUZ em 20/01/2019
Reeditado em 05/03/2019
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