Que bela romã!
 
          Foi assim o meu espanto, no quintal do amigo Mazureike Moraes que, generosamente, tirou-a do pé: “Tome, é sua”. Giacomina, mesmo "mia cara amica", viu com um olhar chorão a romã que se ia. Ela tinha razão: vivia admirando aquela beleza do seu jardim; e era a última que existia, naquela romãzeira, logo no seu fim de safra. Grande, bela, vermelha, vistosa; fazia inveja a qualquer maçã do paraíso.
          Fui iniciado a tal gosto pela minha avó Biluca que aguava, todos os dias, a sempre verdejante romãzeira, atrás da sua casa, em Pilar. E em frente, estava, na feira dos sábados, o banco das sementes e das raízes que curavam, sempre com duas ou três romãs murchas, definindo suas cascas secas, que eram vendidas num preço bem maior do que o do inhame. Convencia-nos o matuto feirante: “É um santo remédio, você gargareja o chá morno e bebe o resto; ele sai limpando qualquer sujeira ou doença, da garganta ao estômago”. O mulherengo Henrique VIII da Inglaterra não dispensava uma romã, como alimentação afrodisíaca, antes dos seus desejos na alcova...
          Também, desde os tempos de menino, via adultos guardarem na carteira, durante as festas de fim de ano, três grãos rosados de romã que representavam os três reis magos, e, como talismã, davam sorte financeira, muito dinheiro e prosperidade. Acredite, se quiser, mas isso acontecia a quem tivesse fé, esperança e muito trabalho. Espero que o Gira Mundo de Ricardo, agora de João, aprendendo nos kibutz nas terras de Israel, ensine, com os chaverim, professores e estudantes a voltarem ao nosso semiárido e cultivarem romãzeiras, com ajuda das águas da transposição do São Francisco; e que essas fruteiras nos deem gigantes, belas e doces romãs, como aquela de Mazureike, admiradas em quantidade nos bancos de fruta da Terra Santa: que belas romãs!