“CONSUMIDA”

Se sentou em minha frente, e parecia... consumida. Como se uma coisa estivesse impedindo que ela respirasse. Na verdade, o que estava difícil mesmo era evitar que uma lágrima deixasse de cair, cada vez que conseguisse sentir um pouco de ar fresco.

- “Eu não sei nem porque tô chorando... num preciso de homem pra ser feliz, sacou??”

- Não, não... - Respondi dando de ombros e rindo, só que forçadamente.

Eu pensava em ir pra casa, comer requeijão ao som de Elvis... Talvez até mesmo Willie Nelson (mas eu acabaria dormindo com sua voz doce e não iria escrever esse texto).

Juice é preta e alta. Magra, e com seios pequenos. Seus braços são fortes – o que ela deixa sempre bem exposto, provavelmente por orgulho – e a coisa vai ficando ainda mais maravilhosa nos andares baixos. Sua cintura fina e o seu abdômen cavado, deixavam meus olhos tontos, que deslizavam aos seus quadris... que rapidamente triplicavam de tamanho numa bunda dura, grande, mas não de uma forma esquisita, tipo tanajura... Fazia o tipinho “rata de academia”, que na verdade não é muito meu tipo, mas às vezes a gente joga a “tipísse” pra casa do caralho.

- E aí, tá bêbada já? – Perguntei.

- “Seu amigo é um safado! Ele disse ia...”

Eu a interrompi com um sinal de “pare”, com a mão esquerda.

- Mas ele já tinha estabelecido que não era nada seu, né não? Tipo, nada que lhe permitisse aguardar ou cobrar um “feedback” ... né não?

Juice parou a bebida no meio de um gole, (tive certeza que o líquido havia estacionado em sua goela, calmamente, esperando que ela terminasse de me dar uma surra pra voltar a descer). Dei o sorriso mais fofo que poderia dar à uma amiga. Daqueles que desarmam as pessoas que te amam.

- “EU POSSO TERMINAR DE FALAR...?!?!” – Perguntou. E eu entendi um pouco sobre o poder que minha mãe tinha de “berrar sussurrando”, quando eu era criança. Talvez seja um comportamento básico das leoas.

- Desculpa, quer pedir batatinha? – (Batatinhas desarmam pessoas emotivas...).

Ela sorriu... Juice tem um formato de rosto atípico para a cor de sua pele. É um rosto fino e delicado. Apenas se destacam os olhos enormes e vivos. Seu sorriso é branco... muito branco... e muito largo. Como se a boca dela fosse um ser vivo único, no topo da cadeia alimentar.

Naquele momento éramos amigos há quase doze anos e ela estava “ficando” com um amigo meu e ele foi claro que não queria nada sério no momento (e ela topou). E talvez dizer isso, tenha sido realmente o problema. Involuntariamente o espírito caçador (e teimoso) de certas mulheres e leoas, acaba processando a situação como um desafio (uma caça). O que acaba excitando-as ainda mais.

- “Eu não forcei nada, sacou?! A gente tava de boa... lá na festa do Ivan. Eu disse que se ele quisesse ir pra casa ele ia... aí ele disse “BELEZA” e ficou lá, distante e fumando. Aí depois veio e disse que EU tava de cara feia. E foi embora! Sacou?!!”

- Tem certeza de que você não fez MESMO cara feia? – Perguntei distraidamente enquanto sentia o guaraná borbulhando no céu da boca.

-“Quiiiiii!! Eu não forcei nada velhooo, a gent...quer dizer, foi ELE que...”

- VOCÊ GOSTA DELE, NÃO É?

Juice tinha acendido um cigarro há cinco minutos e não conseguia traga-lo porque não conseguia calar a boca e parar de se mexer. Finalmente deu algumas baforadas soprando a fumaça pra cima, tentando não dar chilique, e me fazer ir embora, afinal ela não conseguiria encontrar outro desocupado pra conversar. Já era bem tarde...

- Talvez você esteja apaixonada... isso é novo pra você, né? ... sei lá.

Os olhos de Juice se encheram d’água. Vê-la chorando era estranho e belo ao mesmo tempo. E também era bem feio porque ela fazia um tipo de careta que só ficava bem em bebês.

- Tem que falar com ele, baby... pra saber... o máximo que você pode ouvir é “NÃO”. Aí você sofre um pouco... e depois você sobrevive.

- “Eu não aceito ouvir um NÃO de um cara qualquer, velho!”

Bebi mais uma vez o guaraná, olhei em volta sem motivos... eu estava tranquilo e feliz comigo mesmo. Pensando em voltar sozinho pela trigésima noite no ano e pensando que isso estava super OK, pra mim.

- Nossa... interessante... – Eu disse, num tom irônico.

- “O que?!”

- Você, ué... você é toda fodona, eu adoro isso em você. – Ela sabia que eu estava sendo irônico.

Parei pra pensar que... provavelmente logo no dia seguinte, - ou naquela mesma noite... - eles dois estariam juntos como se nada tivesse acontecido... e também notei que toda aquela conversinha imbecil acabaria me dando alguns parágrafos pra escrever de madrugada.

O que seria ótimo... porque eu estava sem internet.