A marvada pinga

Depois da pelada nas manhãs de domingo a gente se reunia no bar para falar de mulher, do Bahia ou do Atlético de Alagoinhas, e da vida dos outros. Não necessariamente nessa ordem. Num dia de muito sol e poucas nuvens apareceu um evangélico, desses que vivem condenando todo mundo ao fogo do inferno, Bíblia na mão, apontou os nossos pecados na ágora etílica e nos sentenciou sumariamente a servir de combustível nas caldeiras do Tinhoso. Só ele, por ordem do pastor, estava salvo. Zito do Fumo, cabra de dois metros de altura por três de largura de invocação, olhou para o evangélico com cara de poucos amigos. Pediu uma dose de pinga pura, deu uma gravata no representante do pastor e enfiou a marvada pinga goela adentro. O cidadão revirou os olhos, tossiu, cuspiu, e dobrou as pernas como se fosse se ajoelhar. A Bíblia caiu de suas mãos. Zito pegou a garrafa de cachaça que ainda estava no balcão e virou na boca do escolhido de Deus. Depois de engolir metade da garrafa de Pitú, o evangélico cuspiu no chão, olhou meio sem jeito para Zito do fumo e perguntou:

- Será que dá pra pagar um tira-gosto?