Outro olhar
Parecia que ele treinava para chegar em primeiro lugar. A prova mais importante da cidade aconteceria em quinze dias na orla da lagoa, lugar bonito, um pedaço da natureza para se degustar. Aninha se sentou com a mãe num banquinho, vendo os patos selvagens que se alimentavam de pequenos peixes. Ela ria muito quando um deles mergulhava e voltava com sua refeição no bico. Depois, fazia beicinho e dizia:
- "tadinho" do peixinho...
A mãe aproveitava para contemplar algumas espécies de bromélias que cresciam no lugar. Minha mulher é botânica e o seu olhar para as plantas é bem particular.
Aquele homem corria com um outro olho, conferia o seu melhor tempo, o ritmo, as passadas... Só via ali a pista compartilhada com outros atletas que vinham para treinar.
"Seu José" regozijava-se com as vendas das águas mineral e de coco no domingo. O carrinho precisava ser reabastecido pelo filho e o que vendiam proporcionavam-lhes o dobro da renda que obtinham de terça às sábado em outros locais.
Uma oportunidade imperdível uma vez que não precisavam pagar pelo ponto que era bem frequentado de manhã bem cedo até à noitinha por famílias, atletas e ciclistas que vinham de todas as partes da cidade.
Eu da minha janela observa aquilo tudo. Em outras épocas ter uma casa na orla era sinal de status e a garantia de sossego no fim de semana. Hoje em dia, desvalorizada pelo mercado, a casa de meus pais estava sendo vendida por um preço pouco interessante, mas foi a saída para os herdeiros que não conseguem mais arcar com os custos dos impostos, manutenção e vigilância. Hoje soube que o comprador pretende demolir a edificação, estilo anos 70, para construir um restaurante no lugar.
Fechei a janela, desci as escadas e resolvi que no próximo ano, me dedicarei mais aos esportes e ao laser, afinal tinha passado boa parte da minha vida ali naquele cenário, mas aproveitado muito pouco de tudo o que aquele espaço maravilhoso tem a oferecer.
Cláudia Machado
Nota: Uma crônica fictícia, mas me baseei na Lagoa da Pampulha (BH) onde antes tinha um certo glamour para morar, hoje observamos várias casas gigantescas fechadas e sem manutenção ou transformadas em casas de festas.
Parecia que ele treinava para chegar em primeiro lugar. A prova mais importante da cidade aconteceria em quinze dias na orla da lagoa, lugar bonito, um pedaço da natureza para se degustar. Aninha se sentou com a mãe num banquinho, vendo os patos selvagens que se alimentavam de pequenos peixes. Ela ria muito quando um deles mergulhava e voltava com sua refeição no bico. Depois, fazia beicinho e dizia:
- "tadinho" do peixinho...
A mãe aproveitava para contemplar algumas espécies de bromélias que cresciam no lugar. Minha mulher é botânica e o seu olhar para as plantas é bem particular.
Aquele homem corria com um outro olho, conferia o seu melhor tempo, o ritmo, as passadas... Só via ali a pista compartilhada com outros atletas que vinham para treinar.
"Seu José" regozijava-se com as vendas das águas mineral e de coco no domingo. O carrinho precisava ser reabastecido pelo filho e o que vendiam proporcionavam-lhes o dobro da renda que obtinham de terça às sábado em outros locais.
Uma oportunidade imperdível uma vez que não precisavam pagar pelo ponto que era bem frequentado de manhã bem cedo até à noitinha por famílias, atletas e ciclistas que vinham de todas as partes da cidade.
Eu da minha janela observa aquilo tudo. Em outras épocas ter uma casa na orla era sinal de status e a garantia de sossego no fim de semana. Hoje em dia, desvalorizada pelo mercado, a casa de meus pais estava sendo vendida por um preço pouco interessante, mas foi a saída para os herdeiros que não conseguem mais arcar com os custos dos impostos, manutenção e vigilância. Hoje soube que o comprador pretende demolir a edificação, estilo anos 70, para construir um restaurante no lugar.
Fechei a janela, desci as escadas e resolvi que no próximo ano, me dedicarei mais aos esportes e ao laser, afinal tinha passado boa parte da minha vida ali naquele cenário, mas aproveitado muito pouco de tudo o que aquele espaço maravilhoso tem a oferecer.
Cláudia Machado
Nota: Uma crônica fictícia, mas me baseei na Lagoa da Pampulha (BH) onde antes tinha um certo glamour para morar, hoje observamos várias casas gigantescas fechadas e sem manutenção ou transformadas em casas de festas.