Elucubrações sobre o direito e a obrigação
Volta e meia aparece no meu portão algum evangélico querendo conversar sobre as coisas "divinas". Apreciador de um bom papo, seja ele qual for e venha de onde vier, sou todo ouvidos, até certo ponto. E interessante, é que moro no mesmo endereço faz muitos anos e esses grupos religiosos, parece que gostam de mim, pobre mortal, espiritualista convicto e empedernido. Desconfio que seja porque dou a atenção que merecem. E ontem aconteceu, de novo, mas foi um pouco diferente. Eu é que estava afim de falar, e, aproveitei o mote, que, aliás me fascina. O tal do direito. Essa palavra está na moda ja faz algum tempo, usada pela maioria das pessoas, por qualquer banal motivo, em qualquer situação. Em fila, então - saibam que me amarro numa fila, nela todos os bons motes para um conto ou crônica, abundam - vive na ordem do dia. E o casal evangélico começou logo me perguntando o que eu achava dos direitos dos cidadãos sendo descumpridos a todo momento e aonde isso poderia nos levar. Olhei para os dois e soltei o que pareceu a eles a maior sandice do século vinte e um. Direito não existe, direito é a consequência das obrigações bem executadas. Quando as obrigações não acontecem o direito não se manifesta. E mandei para o ar a segunda sandice. O direito é igualzinho à dor. Consequência. Se eu dou uma topada eis a danada da dor fazendo presença. Direito e dor são usufruto, não existem por si. Eu desconheço qualquer direito que não venha precedido da correspondente obrigação. Por exemplo: Salário. So o recebemos depois do mes trabalhado,; férias. Só usufruimos depois de pelo menos um ano de trabalho; direito de transitar por ruas limpas. Também só acontece se as outras pessoas todas souberem que "via pública" significa que é coletiva, de todos e não propriedade privada. Na minha sala eu posso fazer xixi no sofá e sentar do lado para um lanchinho, problema meu, é a minha casa. Então, o direito, todo direito, só é viável e possível se cada cidadão buscar fazer a sua parte minimamente bem feita. E, soltei a terceira sandice. Tudo isso me faz chegar à conclusão de que as leis naturais da vida nos coloca, a todos, inexoravelmente dependentes uns dos outros, por isso não vivemos isolados, ermitões. E soltei a quarta e definitiva sandice, a que fez com que se despedissem de mim com um olhar penalizado. Temos uma natural e saudável dependência uns dos outros, que torna dispensável a tutela de qualquer divindade. Tomara que o casal volte num outro dia para conversarmos mais.