CANHÕES DA CHINA II.

Aos amigos que não me acompanham no Facebook, depois de muito treino no canhão lançador de bolinhas de tênis de mesa, com uma mudança de raquete e batida a uma semana de um campeonato, resolvo participar de um torneio em Itupeva interior de São Paulo, próximo a Campinas.

O Sensei (professor em japonês), conhecedor das minhas deficiências, resolve me colocar em uma categoria de veteranos, bem veteranos, acima de 75 anos, os vi batendo bola entre eles, imaginei, vou jantar estes velhinhos e não vou querer receber medalha nenhuma, afinal ainda não sou desta categoria ( eu 65 anos). Inscreveu me também na categoria de iniciantes, vi os concorrentes, pensei, vai ser fácil, este gordinho de 14 anos e este baixotinho e mais uma  freguesa que treina junto comigo.

O grupo de veteranos tinha 5 japoneses e seu Nestor, um velhinho (87 anos) com sobrenome alemão, 1,83 de altura e pesando 60 e poucos quilos, considerei, dentro daquele projeto inicial de ser o melhor do mundo, excepcionando os com traços orientais, tenho obrigação de ganhar apenas deste velhinho, mas com esta idade vou ganhar de todos.

Ouço meu nome no microfone junto com o Missaka, o velhinho mais decrépito do grupo, vou comer pelas beiradas..., sorteia-se o sacador inicial, perco no par e ímpar, brinco com o Missaka, já começou ganhando. Ele se prepara para sacar, curva-se sobre a mesa, balança a raquete e saca, respondo na rede, 1 x 0 para o Missaka, 2 x 0, e depois a minha vez de sacar, agora arrebento com este velhinho, dois saques meus, um longo e um curto, e ele responde com facilidade, 4 x 0.

Deixa estar, ainda não esquentei, de repente olho o placar 11 x 3, primeiro set para o Missaka, e a história se repete nos dois outros sets.

Enganei me com o Missaka, deve ser o melhor deles. Serviu para me abaixar a crista, tenho chances com os outros, posso ainda pegá-lo na final.

Descanso um pouco e me chamam para a categoria iniciante, o adversário, um garoto gordinho de faces rosadas, começamos logo, sem muito aquecimento, em pouco tempo estava 6 x 1 para mim. Tá no papo...de repente o gordinho acorda e vira o jogo. Nos outros dois sets a disputa mais acirrada, mas no final 3 x 0, para quem? Não precisa dizer. E assim foi com o baixotinho, só não sai invicto, por pena da Elsa, uma senhora japonesa, que treina comigo, e sempre ganhei dela, quase que não, desta vez.

Outras partidas com os japoneses, como eles são muito parecidos, não foi diferente da batalha com o Missaka. Agora era seu Nestor, o velho alemão. Lembrei, o único do grupo com a obrigação de eu ganhar. Não vi a cor da bola, de novo, depois descobri que ele foi campeão paulista por três vezes e participa de mundiais da terceira idade.

Saí do torneio frustrado, coloquei toda a culpa na raquete de pino curto e na mudança de batida, devolvi a para meu irmão, dizendo “por pouco não sapateei em cima dela”.

Vou tirar uma semana de férias dos treinos até chegar a minha raquete chinesa importada, que dizem que joga até sozinha, e aí, vou atrás destes veteranos e dos iniciantes deste torneio, para que vejam “com quantos paus se faz uma canoa”.

O triste é chegar a conclusão que o problema não é a raquete.
 
Defranco
Enviado por Defranco em 15/01/2019
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