CRÔNICA – Chegando o Natal – 23.12.2018
 

CRÔNICA – Chegando o Natal – 23.12.2018 (PRL)
 
Os festejos do nascimento do Cristo estavam se aproximando, eis que o calendário já mostrava 10.12.2018. Nobre havia ido com sua esposa almoçar num restaurante do Shopping, o Skillus, na base do self -service, muito bom, por sinal

Durante a conversa, dona Rejane falara, assim dando um toque, que o carro da filha mais nova, a Rúrsula, estava meio cansado, precisando de reparo, talvez. Um veículo de nome Sandero, fabricado pela Renault, que parece muito bom, quando novo, e esse fora doado pelo seu pai há dois anos.

Nobre ficou com aquela notícia na cuca. Sugeriu que a filha pusesse o automóvel numa dessas empresas especializadas, que dão uma roupagem nova e deixam o bem completamente novinho, como que saído de fábrica. -- Mas ela não tem dinheiro pra isso, dissera a Rejane. -- Claro que eu pago, deve ser de dois a três mil reais, respondera o Nobre. Todavia, a jovem, que já vai no terceiro romance, nada respondera.

Por volta do dia 13, o Nobre levara o seu veículo à concessionária para a revisão de praxe, a fim de não perder a garantia, embora ainda não tenha passado dos 1000 km rodados. É que momentaneamente está proibido de dirigir, por ordens médicas, mas a empresa é bem pertinho e ele se arriscou. E lá, na Italiana Veículos, viu aquele carrinho pequenino, lindinho, branco, zero km, na oferta. Não deu outra, surgiu o desejo assim de repente, de comprá-lo pra sua filha. E o fez, foi direto ao funcionário, deu a proposta, pagou à vista, além do que mandara que a nota fiscal saísse em nome da beneficiária do presente. A compra, com emplacamento e seguro, foi cara, um pouco menos do que o doador havia recebido do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS), há um mês, resultado de uma ação contra os planos econômicos.

Tinha em mente o seguinte plano: O Sandero seria rejuvenescido e doado a sua netinha Lara, que está cursando Direito, na Faculdade Federal, e tudo seria desvendado no dia 21, quando haveria o jantar de confraternização da família, que acontece todos os anos. Apenas a Rejane poderia saber, assim como o pai da universitária, claro, senão a surpresa vazaria. Entretanto, o Digeórgio, que é o genitor da Larinha, achou que era cedo para que ela pudesse ter um automóvel, modificando todos os planos do avô, que era de agradar duas pessoas ao mesmo tempo.

Foi até certo ponto difícil engolir essa mudança, porque o Nobre é daqueles caras que criados na base da palavra, do bigode, do respeito a um simples desejo ou mesmo pensamento de um pai. Mas a mocidade de hoje em dia é assim, paciência. O negócio já estava feito, até o seguro providenciado, arrependimento não caberia, bola pra frente.

Então surgiu a seguinte ideia: O Sandero usado seria vendido, ficando a Rúrsula com o produto do negócio, a fim de cobrir suas despesas durante parte do ano que viria, porquanto, apesar de ser formada em curso superior, ganha uma calamidade de salário por mês, não tendo a felicidade de encontrar uma pessoa de gabarito capaz de assumir as rédeas de um lar... só consegue pé rapado... não se sabe se o atual se enquadra melhor na situação, ainda é cedo. Ela conseguiu passar adiante o veículo por dezoito mil reais, uma senhora quantia.

O dia do jantar chegara, a família é grande, mas os adidos também foram. Na hora dos discursos, na vez da Rejane, ela distribuiu os envelopes que prepara todos os anos, tanto para os filhos como para os netos, com certa quantia em dinheiro e/ou cheque, dependendo da idade de cada um. Este ano foi em dobro, pois o avô também compareceu com um papel desses.  O envelope da Rúrsula foi o mais recheado, eis que também continha a documentação já despachada do veículo. Uma festa digna de nota, pelo menos aparentemente...Dois dias depois todos tomaram seus destinos, três residem noutro estado.

Ocorre que, por um mal-entendido de comunicação, pura besteira, quatro dos cinco filhos ficaram com raiva do pai, a ponto de negar-lhe a palavra, tratá-lo como pessoa inexistente, isso que não é novidade alguma no mundo atual, em demonstração de que só o consideram bom e generoso quando presenteia. A Rúrsula e o Digeórgio, residem a menos de um quilômetro dele, a primeira num apartamento que ajudara a pagar, e este num completamente de graça, nem mesmo recolhendo o IPTU; sequer telefonam para a Rejane, que está sofrendo de Alzheimer, necessitando de presença e carinho dos filhos...a última notícia deles foi do dia 31.12.2018, e o pior de tudo é que ela também ficou contra o Nobre.

Essa é uma história verdadeira, mas se houver outra igual será pura coincidência.

Ficamos por aqui.

Nosso abraço.


Silva Gusmão
 
ansilgus
Enviado por ansilgus em 14/01/2019
Reeditado em 14/01/2019
Código do texto: T6550731
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