POR TODOS OS VÍCIOS
Eu elevo à boca, em número de vezes incontáveis, dia após dia, o inferno de Dante. E o faço com a maior das cerimônias. É quase um retiro espiritual. Após o primeiro trago, chega aos pulmões a ilusão do apuramento. Dirijo o olhar para o canto do quarto, onde tudo é solidão. E surge, no meio do nada, a voz de Elis. Os segundos seguintes consomem aquilo que se parece comigo. E quando você quer me dizer algo... A vida queima a vida. E não há dor maior que a sua. A cortina de fumaça encobre a lua que, suspensa acima de nós, não me fala de luz; mas de escuridão. Imensa distância que há entre mim e você. E que não é mais que um abraço; pois tão logo me perco, eu me acho. Como sou ingrato! Não. Não é outra coisa, é mesmo ingratidão. Todas as horas são editadas e mesmo assim eu continuo cometendo os mesmos erros crassos. Mas, eu também nunca soube ser outra pessoa. Não há algo dentro de mim que precise ser recuperado. O desejo é que não mais existe... - Sou quase vazio. E sem você serei o fim. Também pudera, eu quis assim. E quem se importa? O fracasso alheio é graça para os idiotas. Se corre em minhas veias a esquisitice do mundo, problema... Eu posso me transformar no avesso de tudo. E ai daqueles que disserem que eu estou errado... - Como se os pecados deles fossem menores que os meus. Adiante-se meretriz, você está perdoada! Apunhalo-me em todas as minhas partes e furo o absurdo começo, quando ainda menino... E nos olhamos profundamente. Quem segue doravante é um dom Quixote com o seu cavalo Rocinante, para nunca mais voltar. Antes, no entanto, liberto você de qualquer obrigação. Já me basta o meu próprio Carma. Expulse-se, e grite o mais alto que puder: - "Não há mais o que me prenda aqui... Sou um pulo em direção a mim mesma". E vá! Pois, há muito que já morri.
Patos, 11 de janeiro de 2019.