O Mundo Não é Justo
Um domingo, outro não, levo a “patroa” para o seu compromisso num centro de atendimento espiritual. Fico no carro aguardando por mais de duas horas, e sempre estaciono junto à casa de um senhor chamado Marquinho. Ele é um feirante, e é lá na feira que vende os móveis rústicos, fabricados por ele mesmo. Tem uma carroça puxada por uma burra, onde transporta os seus móveis para a feira.
O seu regresso coincide com o horário que me encontro estacionado em frente a sua calçada. Ele é uma pessoa que irradia uma simpatia natural, destas que não vivem a reclamar de tudo, que aceita de bom grado o que a vida lhe dá. Sua vida simples é estruturada na fabricação dos móveis, e na existência daquela carroça, com sua fonte de tração, a burra.
Certa vez, ao voltar da feira, me presenteou com um coco verde. Cortou e me entregou dizendo que era para aliviar a minha sede. Era uma tarde sufocante, e eu estava realmente com sede.
Hoje, quando novamente estacionei no lugar de costume, fiquei sabendo da morte da burrinha, inclusive presenciei, com um certo mal-estar, a chegada de um veículo que a recolheu.
Fiquei ali, olhando a carroça estacionada à minha frente. Sua parte dianteira, que eles chamam de braços, que ficam apoiados nos costados do animal, estava apoiada no chão, passando-me a impressão de alguém triste, cabisbaixo, como se a sentir, desde já, a falta da companheira de trabalho. Senti uma forte emoção, talvez também por saber dos problemas que o pobre Martinho irá enfrentar de agora em diante para prover a sua subsistência. O mundo realmente não é justo.