Um Grande Medo
Não sabia quais eram as horas, tinha certeza apenas que era alta madrugada.
- Mãe, mãe.
- Sim, filha.
- Estou com medo, dorme comigo?
- Deita aqui ao meu lado.
Deitaram e quando já retornando ao sono:
- Mãe, mãe, ora comigo, estou com medo.
- Repete comigo: Papai do céu
- Papai do Céu
- Eu te peço que fique conosco nessa noite.
- Eu te peço que fique conosco nessa noite.
- E que mande esse medo embora.
- E que mande esse medo embora.
Enquanto oravam ela adormeceu, mas por pouco tempo, acordou outra vez com o chamado de sua filha:
- Mãe, mãe?
- Oi filha?
- Estou com fome, leva-me para comer uma coisinha?
Era uma voz tão doce que a mãe não se incomodou em acordar outra vez e ir a cozinha alimentá-la.
- Tá, vamos sim.
Enquanto a criança comia, a mãe fazia imenso esforço para manter olhos abertos, o sono lhe tomava, mas lutava contra ele para fazer companhia a sua filha.
- Quero mais alguma coisinha - com a mesma voz doce repetia a criança.
A mãe empenhada preparava-lhe mais um pouco de comida, algo que a sustentasse até o raiar do dia.
- Pronto filha, vamos dormir.
Já na cama:
- Mãe, mãe, ora outra vez, ainda tenho medo.
Enquanto oravam, ambas adormeceram. Já em dia posto, nublado e enxarcadas pelo xixi que transbordara da fralda, a filha diz:
- Mãe, mãe.
- Oi, amor?
- Dá-me um banho.
- Vamos logo ao banheiro.
Banharam-se e ao vestir a pequena questionou-lhe:
- Filha qual era o seu medo? Você disse que estava com medo, mas qual era o seu medo?
- Hum, é, bem! Medo de ficar sem comida - responde em baixo tom.
- Medo de quê? - insistia a mãe.
- De ficar sem comida - em tom audível respondeu.
A mãe sorriu e abraçou-a com imensa candura quando outra vez fora interrompida pela filha:
- Mãe, mãe.
- Sim, filha.
- Vamos a cozinha, estou com fome.