Do anedotário...
1. Aposentado, depois de 40 anos de serviço, no gozo, portanto, do "Otium cum dignitate", gasto parte do meu tempo relendo velhos escritores e inspirados poetas.
2. Ocupo também meu tempo comprando, com alguma dificuldade, novos livros, que entram no mercado. É sempre assim: quem gosta de ler, vive adquirindo livros, sem ligar pro seu saldo bancário. Vai até ao sebo mais próximo.
3. Uma coisa, porém, é certa: resignei-me fácil com a inatividade imposta pela aposentadoria, no meu caso voluntária. Diferente de Machado de Assis que, aposentado, continuou frequentando sua antiga repartição, mostrando seu incoformismo com a jubilação.
4. Disse, no início, que comprava livros com alguma dificuldade. E é verdade. Estou, por exemplo, há dias, querendo comprar, do escritor Wagner G Barreira, "Maria Bonita - Uma história de amor e balas", depois de ler, da escritora Adriana Negreiros, "Maria Bonita, sexo, violência e mulheres do cangaço". Gosto de ler a história de Lampião e de sua Maria de Dea.
5. Em dias alternados, ou seja, dia sim, dia não, vou à Saraiva e à Cultura. Essas duas livrarias - graças e Deus - ainda funcionam em Salvador. Ouço de seus gentis empregados que esse livro cangaceiro "está para chegar". Mas não sabem dizer quando!
6. Observo, que o clima entre eles é de quase desolação. Noto, no semblante de cada um, aquele ar de preocupação e desalento... Preocupados, claro, com a perda do emprego, que será inevitável, caso as livrarias fechem suas portas. Tento reanimá-los.
7. Assim, enquanto o livro desejado por mim não chega, sigo, como disse, me reencontrando com velhos vates e velhos escritores, cujos versos e prosas, desde sempre, me encantaram... 8. No momento, delicio-me, lendo e relendo o "Anedotário Geral da Academia Brasileira de Letras", livro muito interessante do saudoso romancista maranhense Josué Montello (1917-2006).
9. Nesse seu livro, o autor de "Tambores de São Luís", reúne pequenas e atraentes histórias protagonizadas por escritores e poetas que frequentaram a Casa de Machado de Assis, deixando rastros indeléveis. Escolhi três historinhas; de três poetas.
Espero que o meu dileto leitor e minha amada leitora gostem.
10. A primeira história. " O último desejo - Ao sentir agravar-se o seu estado de saúde, Castro Alves (1847-1871) proibiu que os amigos o visitassem.
Agnese Murri, seu último amor, instou em querer ver o poeta. Mas este, com as lágrimas a lhe descerem dos olhos fundos, teimou na recusa: - Não deixe entrar - disse ele à sua irmã Adelaide, que intercedera em favor da cantora - Ela, mais do que ninguém, não deve gauardar de mim uma lembrança de ruína. Que me recorde como sempre me viu, como me conheceu... Não! Não a deixe entrar... E ao fazer transportar o seu leito para a sala de visitas, para ver a paisagem que se descortinava de uma das janelas abertas para o mar, confessou o seu derradeiro desejo: - Quero morrer olhando o infinito azul..."
11. A segunda história. "O último desejo - Prodigioso trabalhador literário, não obstante ter pago tributo largo à vida boêmia na sua mocidade, Olavo Bilac, no seu leito de enfermo, voltava a escrever, sempre que a doença lhe concedia uma pequena trégua, minorando os seus sofrimentos.
A 18 de dezembro de 1918, ao apontar da primeira claridade do dia, ele se ergue no leito, querendo dirigir-se à mesa de trabalho: - Já raia a madrugada - disse o doente, reconhecendo a luz do sol a insinuar-se no aposento.
E num pedido: Deem-me café. Vou escrever. Mas as forças lhe faltaram e o poeta, logo depois, sem outra palavra, entrou em agonia".
12. A terceira história. "A derradeira lição - No seu leito de agonia, vendo a esposa em prantos, Laurindo (Rabelo) prendeu-lhe as mãos, num gesto afetivo. E erguendo para ela os olhos tristes: - É bom que eu morra primeiro, para te ensinar como se morre. - E expirou pouco depois".
13. Ora, num tempo de tantas histórias feias, mentirosas, fingidas, hipócritas, é bom recuar no tempo e ler pequenos causos que não nos constrangem... Inda mais quando contados pelo elegante escritor Josué de Souza Montello, de estilo leve e de texto escorreito. Sou seu fã...
1. Aposentado, depois de 40 anos de serviço, no gozo, portanto, do "Otium cum dignitate", gasto parte do meu tempo relendo velhos escritores e inspirados poetas.
2. Ocupo também meu tempo comprando, com alguma dificuldade, novos livros, que entram no mercado. É sempre assim: quem gosta de ler, vive adquirindo livros, sem ligar pro seu saldo bancário. Vai até ao sebo mais próximo.
3. Uma coisa, porém, é certa: resignei-me fácil com a inatividade imposta pela aposentadoria, no meu caso voluntária. Diferente de Machado de Assis que, aposentado, continuou frequentando sua antiga repartição, mostrando seu incoformismo com a jubilação.
4. Disse, no início, que comprava livros com alguma dificuldade. E é verdade. Estou, por exemplo, há dias, querendo comprar, do escritor Wagner G Barreira, "Maria Bonita - Uma história de amor e balas", depois de ler, da escritora Adriana Negreiros, "Maria Bonita, sexo, violência e mulheres do cangaço". Gosto de ler a história de Lampião e de sua Maria de Dea.
5. Em dias alternados, ou seja, dia sim, dia não, vou à Saraiva e à Cultura. Essas duas livrarias - graças e Deus - ainda funcionam em Salvador. Ouço de seus gentis empregados que esse livro cangaceiro "está para chegar". Mas não sabem dizer quando!
6. Observo, que o clima entre eles é de quase desolação. Noto, no semblante de cada um, aquele ar de preocupação e desalento... Preocupados, claro, com a perda do emprego, que será inevitável, caso as livrarias fechem suas portas. Tento reanimá-los.
7. Assim, enquanto o livro desejado por mim não chega, sigo, como disse, me reencontrando com velhos vates e velhos escritores, cujos versos e prosas, desde sempre, me encantaram... 8. No momento, delicio-me, lendo e relendo o "Anedotário Geral da Academia Brasileira de Letras", livro muito interessante do saudoso romancista maranhense Josué Montello (1917-2006).
9. Nesse seu livro, o autor de "Tambores de São Luís", reúne pequenas e atraentes histórias protagonizadas por escritores e poetas que frequentaram a Casa de Machado de Assis, deixando rastros indeléveis. Escolhi três historinhas; de três poetas.
Espero que o meu dileto leitor e minha amada leitora gostem.
10. A primeira história. " O último desejo - Ao sentir agravar-se o seu estado de saúde, Castro Alves (1847-1871) proibiu que os amigos o visitassem.
Agnese Murri, seu último amor, instou em querer ver o poeta. Mas este, com as lágrimas a lhe descerem dos olhos fundos, teimou na recusa: - Não deixe entrar - disse ele à sua irmã Adelaide, que intercedera em favor da cantora - Ela, mais do que ninguém, não deve gauardar de mim uma lembrança de ruína. Que me recorde como sempre me viu, como me conheceu... Não! Não a deixe entrar... E ao fazer transportar o seu leito para a sala de visitas, para ver a paisagem que se descortinava de uma das janelas abertas para o mar, confessou o seu derradeiro desejo: - Quero morrer olhando o infinito azul..."
11. A segunda história. "O último desejo - Prodigioso trabalhador literário, não obstante ter pago tributo largo à vida boêmia na sua mocidade, Olavo Bilac, no seu leito de enfermo, voltava a escrever, sempre que a doença lhe concedia uma pequena trégua, minorando os seus sofrimentos.
A 18 de dezembro de 1918, ao apontar da primeira claridade do dia, ele se ergue no leito, querendo dirigir-se à mesa de trabalho: - Já raia a madrugada - disse o doente, reconhecendo a luz do sol a insinuar-se no aposento.
E num pedido: Deem-me café. Vou escrever. Mas as forças lhe faltaram e o poeta, logo depois, sem outra palavra, entrou em agonia".
12. A terceira história. "A derradeira lição - No seu leito de agonia, vendo a esposa em prantos, Laurindo (Rabelo) prendeu-lhe as mãos, num gesto afetivo. E erguendo para ela os olhos tristes: - É bom que eu morra primeiro, para te ensinar como se morre. - E expirou pouco depois".
13. Ora, num tempo de tantas histórias feias, mentirosas, fingidas, hipócritas, é bom recuar no tempo e ler pequenos causos que não nos constrangem... Inda mais quando contados pelo elegante escritor Josué de Souza Montello, de estilo leve e de texto escorreito. Sou seu fã...