A violência familiar como procedimento artístico
Esse negócio de obra de arte não foi feito para admiração de qualquer um não. Só os escolhidos é que veem coisas que os pobres mortais não enxergam. Quando eu era garoto lá em Barbacena, meu irmão mais velho me levou a uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Uma tela especial me chamou a atenção pela sua singularidade: só havia um minúsculo ponto preto no centro de uma tela emoldurada. Os visitantes faziam "oooohhhh!!!" de admiração e elogiavam a genialidade do artista. Senti-me um estranho fora do ninho, o próprio personagem de Moura Brasil naquela história de que "o pior cego é aquele que não quer ver". E, de quebra, ainda levei um cascudo do meu irmão. Ele justificou a violência doméstica como parte dos ensinamentos da oficina de Arte que acabara de criar.