UM CÃO CHAMADO LOBO
Ultimamente, tenho visto com muita preocupação os casos de ataques de cães contra seres humanos, especialmente, os da raça Pit Bull. O que vejo e leio é que algumas pessoas estão se aproveitando do temperamento agressivo da casta, para torná-la uma arma, muitas vezes, apenas para o deleite de meia dúzia de criadores que os colocam para brigarem.
Por sinal, na rua onde moro, um jovem criador de um Pit Bull o ensina a ser hostil, aplicando-lhe métodos que o levem a se tornar uma verdadeira máquina de matar, como por exemplo: só lhe dá carne fresca e sangrando para ele comer, o instiga sempre a reagir contra outros cachorros, o condiciona a comandos de ataques, etc. Outro dia, eu estava sentado, na calçada da minha casa, quando o vi se aproximar com o cachorro, que estava sem focinheira, amarrado apenas por uma coleira, sem estrangulador. Imediatamente, eu me levantei, pus a cadeira para dentro, fechei o portão e esperei que o mesmo passasse para eu poder retornar ao local que estava antes, porque seguro morreu de velho, apesar de ele ter ficado rindo da minha cara, me chamando de medroso.
Pois bem. Foi-se o tempo em que cachorro era ser humano igual a nós. Segundo o Senhor Ministro do Trabalho, Rogério Magri, no Governo de Collor, quando interpelado pela imprensa, que exibiu uma foto onde a cachorrinha dele estava passeando em um carro oficial, saiu-se com essa, dizendo que “cachorro é ser humano igual a nós e precisa passear, precisa de carinho e atenção”.
Bem, eu concordo com o ex-ministro que criar um animal é dispensar toda a atenção possível, e dentre essas atenções, estão a de levá-lo a passear, para tirar seu estresse; de lhe dar carinho, para que o mesmo se torne dócil; de levá-lo ao veterinário e fazê-lo tomar as vacinas necessárias para que o mesmo tenha boa saúde; de alimentá-lo bem e adequadamente; enfim, o animal se torna um membro da família e por isso mesmo, passível de todo zelo por parte dos seus donos. Agora, eu só não sei se ele é um ser humano ainda. Tenho minhas dúvidas.
Realmente, antigamente quando se criava um animal, se criava apenas com um intuito: o de que ele protegesse o seu bem, normalmente, a casa e, mais especificamente, o muro que essa casa tinha. Ter um cachorro no muro da casa era sinônimo de segurança para seu dono. Quando ele, por algum motivo latia durante a noite, era unívoco de que havia algo estranho acontecendo por ali. E mais: o uníssono dos latidos dos cães dos outros muros denunciava isso. Era fácil afugentar algum tipo de malandro que quisesse se aventurar por muros alheios.
Criávamos o nosso cão dessa forma. Era um Pastor Alemão puro, chamado de Lobo, que tinha como lar, o muro lá de casa. Uma fera para os de fora. Para os de casa, um cordeiro. Conhecia cada passo de cada um de nós. Podia ser de noite ou de dia, se fosse um de nós de casa, ele apenas acompanhava com seu olhar sereno, sem nem arredar um pouquinho de sua casinha de madeira. Distinguia o barulho do caminhão do seu dono a qualquer hora e era o primeiro a nos mostrar com seus latidos que ele vinha chegando de viagem, mesmo que nós ainda nem tivéssemos ouvido o barulho do motor do possante.
Uma vez ele conseguiu sair do muro e fez um verdadeiro estardalhaço pelas ruas do bairro e eu fui encarregado de tentar trazê-lo de volta. Só precisou chamá-lo pelo nome para ele parar com todo aquele circo e vir, balançando o rabo atrás de afago, e se deixar pegar para voltar para seu cantinho.
Era um cão especial. Diria quase humano, se é que posso dizer. Posso. Um Ministro pôde, eu posso também. Um dia, ele cometeu um deslize: estava comendo quando meu irmão, na época com cinco anos, tentou tirar-lhe a comida. O instinto animal foi mais rápido que o olfato com o qual ele diferenciava as pessoas adventícias dos seus donos: quis proteger seu jantar e arranhou, com suas patas, abaixo do olho esquerdo da criança. Sangue, choro, gritos, susto do animal e um pronto socorro com venda no olho e tudo. Resultado: a partir de este fatídico jantar, ele nunca mais comeu. Uivava de tristeza e não podia ver aquela criança: chorava seu choro de cão definhando, dia após dia, até não ter mais forças para chorar ou uivar. Foi para o paraíso dos cães levando consigo a culpa de ter feito um único delito na terra dos homens.
Obs. Imagem da internetUltimamente, tenho visto com muita preocupação os casos de ataques de cães contra seres humanos, especialmente, os da raça Pit Bull. O que vejo e leio é que algumas pessoas estão se aproveitando do temperamento agressivo da casta, para torná-la uma arma, muitas vezes, apenas para o deleite de meia dúzia de criadores que os colocam para brigarem.
Por sinal, na rua onde moro, um jovem criador de um Pit Bull o ensina a ser hostil, aplicando-lhe métodos que o levem a se tornar uma verdadeira máquina de matar, como por exemplo: só lhe dá carne fresca e sangrando para ele comer, o instiga sempre a reagir contra outros cachorros, o condiciona a comandos de ataques, etc. Outro dia, eu estava sentado, na calçada da minha casa, quando o vi se aproximar com o cachorro, que estava sem focinheira, amarrado apenas por uma coleira, sem estrangulador. Imediatamente, eu me levantei, pus a cadeira para dentro, fechei o portão e esperei que o mesmo passasse para eu poder retornar ao local que estava antes, porque seguro morreu de velho, apesar de ele ter ficado rindo da minha cara, me chamando de medroso.
Pois bem. Foi-se o tempo em que cachorro era ser humano igual a nós. Segundo o Senhor Ministro do Trabalho, Rogério Magri, no Governo de Collor, quando interpelado pela imprensa, que exibiu uma foto onde a cachorrinha dele estava passeando em um carro oficial, saiu-se com essa, dizendo que “cachorro é ser humano igual a nós e precisa passear, precisa de carinho e atenção”.
Bem, eu concordo com o ex-ministro que criar um animal é dispensar toda a atenção possível, e dentre essas atenções, estão a de levá-lo a passear, para tirar seu estresse; de lhe dar carinho, para que o mesmo se torne dócil; de levá-lo ao veterinário e fazê-lo tomar as vacinas necessárias para que o mesmo tenha boa saúde; de alimentá-lo bem e adequadamente; enfim, o animal se torna um membro da família e por isso mesmo, passível de todo zelo por parte dos seus donos. Agora, eu só não sei se ele é um ser humano ainda. Tenho minhas dúvidas.
Realmente, antigamente quando se criava um animal, se criava apenas com um intuito: o de que ele protegesse o seu bem, normalmente, a casa e, mais especificamente, o muro que essa casa tinha. Ter um cachorro no muro da casa era sinônimo de segurança para seu dono. Quando ele, por algum motivo latia durante a noite, era unívoco de que havia algo estranho acontecendo por ali. E mais: o uníssono dos latidos dos cães dos outros muros denunciava isso. Era fácil afugentar algum tipo de malandro que quisesse se aventurar por muros alheios.
Criávamos o nosso cão dessa forma. Era um Pastor Alemão puro, chamado de Lobo, que tinha como lar, o muro lá de casa. Uma fera para os de fora. Para os de casa, um cordeiro. Conhecia cada passo de cada um de nós. Podia ser de noite ou de dia, se fosse um de nós de casa, ele apenas acompanhava com seu olhar sereno, sem nem arredar um pouquinho de sua casinha de madeira. Distinguia o barulho do caminhão do seu dono a qualquer hora e era o primeiro a nos mostrar com seus latidos que ele vinha chegando de viagem, mesmo que nós ainda nem tivéssemos ouvido o barulho do motor do possante.
Uma vez ele conseguiu sair do muro e fez um verdadeiro estardalhaço pelas ruas do bairro e eu fui encarregado de tentar trazê-lo de volta. Só precisou chamá-lo pelo nome para ele parar com todo aquele circo e vir, balançando o rabo atrás de afago, e se deixar pegar para voltar para seu cantinho.
Era um cão especial. Diria quase humano, se é que posso dizer. Posso. Um Ministro pôde, eu posso também. Um dia, ele cometeu um deslize: estava comendo quando meu irmão, na época com cinco anos, tentou tirar-lhe a comida. O instinto animal foi mais rápido que o olfato com o qual ele diferenciava as pessoas adventícias dos seus donos: quis proteger seu jantar e arranhou, com suas patas, abaixo do olho esquerdo da criança. Sangue, choro, gritos, susto do animal e um pronto socorro com venda no olho e tudo. Resultado: a partir de este fatídico jantar, ele nunca mais comeu. Uivava de tristeza e não podia ver aquela criança: chorava seu choro de cão definhando, dia após dia, até não ter mais forças para chorar ou uivar. Foi para o paraíso dos cães levando consigo a culpa de ter feito um único delito na terra dos homens.