A TIME-LIFE E A REDE GLOBO
A TIME-LIFE E A REDE GLOBO
“O bem pede doação total para que se realize no mundo o bem de todos’. (Chico Xavier).
A lucidez e a paz começam no íntimo das criaturas humanas. A quietude íntima faz com que alcancemos o equilíbrio perfeito para mantermos relações adequadas com as pessoas que convivemos, ou para agirmos convenientemente diante das situações que se sucedem em nosso dia-a-dia. Sem que haja a permanente deterioração causada por ilusões ou desajustes emocionais, teremos muito mais tempo para diferenciar os fatos das ocorrências ou complicações ilusórias. Todo começo tem um artifício ou um ponto de partida, seja bom e de mau alvitre, um direcionamento perspicaz e itinerante com suas nuanças e planejamentos. O que aqui iremos inserir não tem o tom de crítica, nem de mostrar pontos negativos, mas pontificar os percalços que a história produz. A primeira manobra oficial é o ponto de partida e o solavanco das causas que a manobra em alusão, produziu no tempo e no espaço. “A 27 de maio de 1964, dois anos depois de estarem vigorando os contratos firmados entre a TV Globo e o grupo Time-Life, Roberto Marinho enviou um – e apenas um dos contratos – o de Assistência Técnica, para registro na antiga Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), posteriormente transformada no Banco central. Carlos Lacerda destaca que isso só ocorreu “(...) um ano depois da Revolução; só depois da revolução, só depois que Time-Life e Roberto Marinho tiveram a promessa, pelo menos latente, da impunidade (...)” – depoimento de Carlos Lacerda”. Ressalte-se que na consolidação das Sugestões sobre televisões as recomendações apresentadas pelos especialistas eram denominadas de “depoimentos virtuais”, bem como dos riquíssimos projetos de lei tramitados no Congresso Nacional.
Era pensamento de o governo privatizar suas emissoras, mantendo apenas os serviços essenciais de comunicação para as zonas mais remotas do País e para o exterior. Casos claros de privatização foram da própria TV Nacional, de Brasília, a Rádio Nacional FM, de Brasília, puramente comercial, e a própria Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Que a lei dê direito às TVs educativas de receber doações e de fazer publicidade compatível com sua natureza seja na forma de patrocínio seja de Apoio Cultural. Essas nuanças aqui colocadas servem de reforço do cuidado que eram dispensadas as televisões brasileiras. No depoimento que prestou a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigou as ligações da Rede Globo com o grupo norte-americano, Roberto Marinho jactou-se (do latim jactare + se; ter jactância; gabar-se, ufanar-se, gloriar-se, vangloriar-se, blasonar, bazofiar; jactanciar-se) em vários momentos da competência administrativa da sua empresa: “Nós temos, nesses 41 anos de trabalho, que é um título de glória que peço desculpas por invocar mais uma vez, outro título que ninguém nos poderia tirar; o de sermos bons administradores. (Depoimento de Roberto Marinho). Entretanto, o contrato de Assistência Técnica encaminhado à Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC) não pôde ser apresentado em virtudes das rasuras que continha, como explica João Calmon: o contato estava “todo rasurado”, e nem todas as rasuras estavam ressalvadas. (...) eram tantas rasuras, eram tantas as palavras escritas a mão, em alguns casos até páginas inteiras manuscritas, que tais contratos só poderiam ter o destino que tiveram; foram devolvidos ao Sr. Roberto Marinho; e a SUMOC ficou aguardando a remessa de uma cópia limpa. (Calmon. Op. Cit. P.170). Essa atitude tem um nome: falta de responsabilidade e bom senso do senhor Roberto Marinho.
Ele por duas vezes admitiu a falha, mas não houve dolo, porque o segundo estava totalmente corrigido. (Câmara dos deputados. Op. Cit., p.26-7. – Depoimento de Roberto Marinho). Isso só foi possível pelos pedidos da CONTEL – a Sumoc fazia referências a diversas clausulas que a Rede Globo havia omitido, não enviou as retificações do contrato rasurado no Banco Central, a afirmação de Roberto marinho na CPI teria sido falsa. Fato revelado por Dênio Nogueira, presidente do Banco Central em seu depoimento na CPI, em 27 de julho de 1966: até esta data a Rede Globo não enviou nenhum outro contrato, além do rasurado, para exame do Banco Central. (Ibidem, p.65. (Depoimento de Dênio Nogueira). Um ano mais tarde aparecia algo de novo, no final de 1955, depois do CONTEL solicitar a Globo e depois de já haver um escândalo público e denúncias formais contra a emissora. Inadmissível, portanto, a alegada “ingenuidade” de uma empresa como a já citada nas entrelinhas, que fez negócios de vulto, em âmbito internacional, e envia documentos manuscritos e rasurados para exame de um órgão público.
Marinho, porém admite, além disso, que só tomou providências quanto ao contrato rasurado, que estava em (pleno vigor) depois de exigências do CONTEL: “Essa providência foi tomada em virtude do pedido do CONTEL e não espontaneamente, porque não tínhamos atentado para essas irregularidades afirmou RM (Roberto Marinho). A - Globo queria tirar os contratos da clandestinidade para uma defesa a posteriori. Na verdade existia o vínculo entre Time-Life e Globo, Dênio chamou atenção para os riscos do negócio. A Time-Life continuava enviando dinheiro a rede Globo, porém o Banco Central queria enquadramento desses negócios, operação “às cegas” denominada por Dênio. O que da história: Não é difícil concluir que não se tratava de filantropia do grupo norte-americano. Como se explicaria de outra forma o fato de que alguém, possuindo um imóvel no valor de CR$ 1 bilhão, quantia essa paga pela Time-Life para a compra de um imóvel da TV Globo, o arrendasse sem perceber aluguéis em períodos deficitários, a menos que estivesse animado do mesmo propósito de investidor e não de um simples locador. Isso pode ser considerado lavagem de dinheiro? Deixamos com o leitor mais esclarecido a resposta. Mais uma vez Daniel Herz dá uma tremenda aula e que essa face da história global não está inserida em lugar nenhum. Seria a TV sobre controle ou fora de controle? A resposta da sociedade ao poder da televisão pegando um gancho em Laurindo Lalo Leal Filho seria a expressão mais escorreita ou correta para o caso. Provação é sombra necessária, aprendamos a viver para o bem dos outros, a fim de encontrarmos o nosso verdadeiro bem.
ANTONIO PAIVA RODRIGUES- MEMBRO DA ACI E ACADÊMICO DA ALOMERCE.