ADÃO FÉ SOUZA - PERSONAGEM VIVO DA HISTÓRIA DE SANTA MARIA DA VITÓRIA

Inicio esta crônica de uma maneira diferente fugindo um pouco dos padrões convencionais. Normalmente usamos a cronologia natural do passado para os momentos mais próximos do atual, mas nesse caso, utilizarei uma narrativa, pregressa, para chegar à mensagem a que me propus a escrever. Não será uma digressão, pois o texto, mesmo sendo escrito na cronologia de frente para trás, não fugirá da ordem correta com começo, meio e fim, dentro de uma lógica na narrativa.

Estávamos no ano de .............em um dia de sábado totalmente ensolarado, com o astro rei brilhando intensamente na nossa calma e bucólica Santa Maria da Vitória, banhada pelo rio Corrente, tendo o morro do Domingão como seu mirante natural e a igrejinha do alto do Menino Deus cuja torre em um retrato píncaro, parecia uma lente telescópica vasculhando o rio jorrando suas águas na direção do Rio São Francisco.

Neste dia que parecia ser mais um dos lindos dias na nossa cidade, na casa onde eu morava na Rua Ruy Barbosa, em razão da chegada de uns móveis procedentes de São Paulo, mas que estavam guardados em Brasília, porque a transportadora havia errado o caminho, enquanto desembalávamos e fazíamos as locações dentro de casa, fomos sacudidos por uma notícia terrivelmente triste:

- Adão Souza havia falecido em um acidente de carro que trafegava em uma estrada de fazenda!

Ficamos estarrecidos! Momentaneamente ficamos sem nenhuma ação. Os olhos de Dona Lindaura ficaram marejados de repente. Passado o torpor a que fomos sacudidos, continuamos a nossa labuta e logo em seguida dona Lindaura mexendo na gaveta de uma penteadeira achou um monóculo. Cuidadosamente colocou o par de óculos para checar a fotografia e espantada comentou:

- Só podia ser coisa de Deus! É muita coincidência!

- O que foi Iaiá? Perguntou Sara.

- Olhe esta foto meninos!

Um a um nós olhamos o monóculo e ficamos surpresos. Era a foto de Adão Souza abraçando e beijando a testa da grande educadora, Rosa Oliveira Magalhães, no palco do auditório Henrique M’Call.

Dona Lindaura disse-nos que assim que a tormenta passasse, ela daria o monóculo com a foto de Adão e dona Rosa para dona Kamé, a mãe de Adão Souza. Aliás dona Lindaura o conhecia desde a mais tenra idade.

Era o inicio de Dezembro de 1973. A turma da oitava série da Escola Popular Oliveira Magalhães estava na solenidade de formatura de conclusão de curso. Para que possamos ter uma ideia, cito aqui alguns nomes que faziam parte da turma daquela oitava série: Sílvia, Margareth, Jussara, Rita de Miranda, Esmeralda, Zé Emilio, Pedrinho de Afonso, etc. Adão Fé Souza era o paraninfo da turma e a dona Rosa a patrona.

O carinho e a reverência do Adão para com dona Rosa naquela noite na solenidade, foi uma das coisas mais extraordinária que eu havia presenciado na minha vida, e no seu discurso ,além de agradecer imensamente pelo convite, não se cansava de enaltecer a importância de Dona Rosa na vida dele e da cidade de Santa Maria da Vitória. E naquela foto encontrada no dia da sua morte trouxe à memória aquela formatura em 1973, onde Adão Souza foi o paraninfo e juntamente com Dona Rosa oliveira Magalhães, abrilhantaram aquela solenidade de formatura, dos concluintes da turma de oitava série 1973, do Colégio Popular Oliveira Magalhães..

Talvez os alunos que participaram daquela solenidade de formatura não tiveram a dimensão daquele acontecimento mágico; e também jamais poderiam imaginar, que seria um dos últimos em que o nosso grande e imortal conterrâneo, Adão Fé Souza, participaria de um grande evento em nossa cidade, ao lado da Imortal Rosa Oliveira Magalhães. Um filho da nossa terra que fazia de tudo para enaltecê-la. Um homem que eu aprendi a admirar quando ainda era uma criança com os meus sete ou oito anos de idade, e na narrativa a seguir eu mostrarei o real motivo.

Vivíamos na primeira metade dos anos 1960. A Rua Ruy Barbosa era toda ela cheia de areões. O calçamento só começava no início da Praça da Bandeira, ia até a esquina da casa de Antônio Cruz, e na Praça não passava do cruzeiro que ficava à frente da igreja matriz.

Do lado esquerdo da rua, sentido Praça da Bandeira, algumas casas ainda estão na minha memória: Anacleto, Petrônio, Mário Campos, Hotel Sertanejo, Dona Anita, Reinaldo Athayde, Dona Ingrácia, dona Sebastiana, Mestre Adelgundes, a casa dos pais de Kincas Coimbra, Dona Rosa, beco de Celsinho e a casa dele, internato feminino, Seu Adenor, Zezito, Nozinho, Rosi, Neusa Coelho, Santa Clara, beco do Santa Clara, casa do pai de Wilson Barros, Joaquim Athayde, Seu Agostinho e dona Kamé e Antônio Cruz etc.

A nossa Rua Ruy Barbosa era muito movimentada com as brincadeiras das crianças, com os carros de bois, com os cavalos montados, pessoas que iam e vinham da rua de cima para a rua de baixo, de vez em quando um veículo motorizado, cachorros e leitões também dividiam o espaço das ruas.

Durante o dia com o sol a pino, as areias eram mais fornalhas do que uma rua de tão quentes e o inverso nas estações das chuvas com formação de grandes poças formadas pelo excesso de águas. Voltando para os dias ensolarados, assim que as sombras começavam a cobrir as calçadas do lado esquerdo da rua as brincadeiras começavam, com bola de gude, bola de futebol, bicicletas etc.

Pedrinho Serpa, Bustiquinha, B12, Henrique, Margareth, Zé Manoel, Detizinha, Kinkas, João, Leninha, Guega, Val, Dilson, Tinho, Reinaldo, Norma, Beia, Olginha, Mirtinha, Zequinha e mais alguns frequentadores da rua, se transformavam em donos da rua enquanto, fazendo dela um grande paqrqu de diversão. Dona Ruth, dona Nenzinha, dona Rosa dona Elizete, dona Fidelcina, dona Idalina, dona Neusa Coelho, dona Anita, Dona Nana, dona Ingrácia, dona Fidelcina, Dona Sebastiana, dona Deti, Dona Lindaura e dona dona Ivone se transformavam em donas das calçadas, fazendo delas um sala de bate papos.

Era uma tradição das pessoas, ( as senhoras) colocarem cadeiras de fechar nas calçadas para baterem papos umas com as outras , e as pessoas que transitavam tanto pela rua quanto pela calçada, ou cumprimentavam, ou paravam para um dedinho de prosa, e a criançada dominando a rua, já que carro só passava uma vez ou outra, afinal de contas dava para contarmos nos dedo a quantidade de carros na cidade.

Como eu era um aluno interno do Colégio de Dona Rosa, no horário em que a criançada começava a reinar na rua eu tinha que tomar banho mais cedo e ficar sentado ao lado das senhoras batendo papos, louco para estar nas areias brincando. De vez em quando um jovem chamado Adão Souza sentava na calçada, colocava uma perna sobre a outra, ficava um longo período conversando com as senhoras ali. Sempre na roda de conversa estavam presentes, Dona Ruth, Dona Nenzinha, Dona Rosa, Dona Elizete.

Foi nestas muitas rodas de conversas ao cair da tarde que eu presenciei as inúmeras vezes que Adão Souza sempre chegava para bater papos com aquelas mulheres e ali eu notei a veneração, o respeito e a admiração que ele tinha para com aquelas mulheres, principalmente dona Rosa Oliveira Magalhães, a grande educadora de Santa Maria da Vitória.

Como eu poderia imaginar ou ter a dimensão de que eu estive presente em rodas de conversas envolvendo pessoas tão ilustres como dona Rosa e Adão Souza, Dona Nenzinha, dona Elizete, Dona Ruth!

Sempre que Adão Souza chegava a Santa Maria, para nós moradores era um grande acontecimento, principalmente que ele era deputado estadual e para nós era uma honra e orgulho. Adão Souza sempre foi um cidadão que fazia questão de estar presente na sua terra natal e além de conhecê-lo e ter muita admiração por ele, a minha felicidade maior foi conviver com os membros da sua família, principalmente os seus sobrinhos e alguns irmãos.

Adão Fé Souza não deve ser apenas lembrado como nome de rua, nome de travessas de ruas, nome de praças, nome de ponte: Adão Fé Souza deve ser lembrado, como personagem vivo da nossa historia! Da história de Santa Maria da Vitória! Gente da nossa gente!

Tenho dito.