Sonho em Ubatuba - Capítulo I
Oi, Deus
Eu só falo contigo quando estou triste, não é ? Mas, é o seguinte:
Eu não sei do que você é feito, nem se existe. Não sei se esta força é uma forma de inteligência que não abrangemos ou se é parte de nosso cérebro, que funciona à custa de elementos químicos.
Aqueles mantras ou orações, que servem pra hipnotizar, não conseguem tanto quanto eu consigo, quando estou em silêncio como agora, falando contigo.
Somos onipotentes, onipresentes, oniscientes. Mas, aqui, eu quero ser eu mesma - pequenina e simples, como eu sempre primei ser. Sou objetiva, na maioria das vezes, talvez curta e grossa, como dizem – sem papas na língua. Dizem que eu sou radical, que assusto, que eu não temo e sou direta demais. Odeiam-me quando eu abro a boca e, ao mesmo tempo, me admiram por isso... Lido com a tragédias e tento administrar isso na minha vida de mulher - o que nem sempre consigo. Se eu passo segurança, não estou fazendo mais do que minha obrigação, pois me preparei para isso, como qualquer autômato. Talvez eu me pareça mais com a minha parte insegura, com dúvidas elementares, que geralmente parecem ridículas aos olhos da maioria.
No embalo das visitas de médico, eu pretendo passar em crônicas as minhas últimas viagens ou passeios. Isso vai dar trabalho, porque eu terei que estudar dias a fio, para associar meu lazer à teoria. Só que hoje eu quero esquecer teorias e vou abrir as visitas em Ubatuba com um papo contigo.
Tive naquela terra um papo até 5 horas da madruga, meio de porre, com uma amiga, Eliana Rocha. Nem sei o que tanto conversamos, mas, de repente, ela disse que estava amanhecendo e nem tínhamos sentido falta de um computador ligado na nossa cara.
Este lugar paradisíaco foi aproveitado da mesma forma que um médico faz uma visita a um paciente: dinamicamente, raciocinando rapidamente. Pude sentir o ar, o local e as pessoas - tudo fugidio, como minha vida. Eu captei desta viagem a mesma coisa que eu captei ao longo dos meus últimos anos: a simplicidade, a ternura, o sentimento maior. Em poucas horas, ou minutos, eu tive que apreender ao máximo todas as informações que me vinham.
Papai do Céu, eu te vi naquele porto, cheio de barcos, quando o sol tentava aparecer e não conseguia. Eu te vi na flor que tentei fotografar. Eu te vi naquelas pessoas bondosas que me ofereceram um prato de comida, acompanhado de amor e carinho. Como te vi no olhar daquela mulher bondosa, que ama animais, ou daquela que vive só, mas que tem um mundo à frente de sua mente. Eu te vi nas ondas, no cheiro de maresia, no cantar daquela artista linda, que eu encontrei sem querer. Se mais não bastasse, eu te vi na estrada de volta, cantando com Pink Floyd ou Jimmy Hendrix, passando por Dire Straights e Zeca Pagodinho. Isso tudo dentro de um carro, brincando, como seu eu fosse criança de novo – virgem de pudores, de problemas, de tristezas e preocupações.
Eu queria o azul mais bonito e eu o tive. Quis dormir até tarde, mas não consegui. Quis maior contato com o mar e não pude. Só que ele me seguiu de noite, ao meu lado, na estrada. Eu sabia que o mar estava lá, me dando adeus. Ele impunha sua presença e me dizia o quanto eu deixei de aproveitar. Agora o mar me exige retorno, que não sei se vou poder cumprir um dia.
Voltei exausta de Ubatuba e com um batalhão de problemas a enfrentar. Ficaram no caminho os meus sonhos, mas trouxe de volta meus desejos. Ficou a vontade de olhar melhor a tartaruga aprisionada numa piscina, a vontade de ser eterna amiga daquela família que ficou comigo a tarde toda comendo ostras na beira da estrada. A vontade ficou de permanecer mais tempo o lado daquela senhora que me hospedou e que parecia ser tão linda por dentro. Eu vou ficar na vontade de rir mais com os amigos que lá encontrei.
Eu agradeço, Pai (se é que existe além de minha mente), por ter sido vista com os olhos da bondade e de ter olhado com os mesmos. Um dia eu começo a fazer crônicas sobre as viagens, mas, neste momento, eu só quis lhe agradecer a oportunidade de ter sido tão feliz.
Rio de Janeiro, 14 de setembro de 2007
Oi, Deus
Eu só falo contigo quando estou triste, não é ? Mas, é o seguinte:
Eu não sei do que você é feito, nem se existe. Não sei se esta força é uma forma de inteligência que não abrangemos ou se é parte de nosso cérebro, que funciona à custa de elementos químicos.
Aqueles mantras ou orações, que servem pra hipnotizar, não conseguem tanto quanto eu consigo, quando estou em silêncio como agora, falando contigo.
Somos onipotentes, onipresentes, oniscientes. Mas, aqui, eu quero ser eu mesma - pequenina e simples, como eu sempre primei ser. Sou objetiva, na maioria das vezes, talvez curta e grossa, como dizem – sem papas na língua. Dizem que eu sou radical, que assusto, que eu não temo e sou direta demais. Odeiam-me quando eu abro a boca e, ao mesmo tempo, me admiram por isso... Lido com a tragédias e tento administrar isso na minha vida de mulher - o que nem sempre consigo. Se eu passo segurança, não estou fazendo mais do que minha obrigação, pois me preparei para isso, como qualquer autômato. Talvez eu me pareça mais com a minha parte insegura, com dúvidas elementares, que geralmente parecem ridículas aos olhos da maioria.
No embalo das visitas de médico, eu pretendo passar em crônicas as minhas últimas viagens ou passeios. Isso vai dar trabalho, porque eu terei que estudar dias a fio, para associar meu lazer à teoria. Só que hoje eu quero esquecer teorias e vou abrir as visitas em Ubatuba com um papo contigo.
Tive naquela terra um papo até 5 horas da madruga, meio de porre, com uma amiga, Eliana Rocha. Nem sei o que tanto conversamos, mas, de repente, ela disse que estava amanhecendo e nem tínhamos sentido falta de um computador ligado na nossa cara.
Este lugar paradisíaco foi aproveitado da mesma forma que um médico faz uma visita a um paciente: dinamicamente, raciocinando rapidamente. Pude sentir o ar, o local e as pessoas - tudo fugidio, como minha vida. Eu captei desta viagem a mesma coisa que eu captei ao longo dos meus últimos anos: a simplicidade, a ternura, o sentimento maior. Em poucas horas, ou minutos, eu tive que apreender ao máximo todas as informações que me vinham.
Papai do Céu, eu te vi naquele porto, cheio de barcos, quando o sol tentava aparecer e não conseguia. Eu te vi na flor que tentei fotografar. Eu te vi naquelas pessoas bondosas que me ofereceram um prato de comida, acompanhado de amor e carinho. Como te vi no olhar daquela mulher bondosa, que ama animais, ou daquela que vive só, mas que tem um mundo à frente de sua mente. Eu te vi nas ondas, no cheiro de maresia, no cantar daquela artista linda, que eu encontrei sem querer. Se mais não bastasse, eu te vi na estrada de volta, cantando com Pink Floyd ou Jimmy Hendrix, passando por Dire Straights e Zeca Pagodinho. Isso tudo dentro de um carro, brincando, como seu eu fosse criança de novo – virgem de pudores, de problemas, de tristezas e preocupações.
Eu queria o azul mais bonito e eu o tive. Quis dormir até tarde, mas não consegui. Quis maior contato com o mar e não pude. Só que ele me seguiu de noite, ao meu lado, na estrada. Eu sabia que o mar estava lá, me dando adeus. Ele impunha sua presença e me dizia o quanto eu deixei de aproveitar. Agora o mar me exige retorno, que não sei se vou poder cumprir um dia.
Voltei exausta de Ubatuba e com um batalhão de problemas a enfrentar. Ficaram no caminho os meus sonhos, mas trouxe de volta meus desejos. Ficou a vontade de olhar melhor a tartaruga aprisionada numa piscina, a vontade de ser eterna amiga daquela família que ficou comigo a tarde toda comendo ostras na beira da estrada. A vontade ficou de permanecer mais tempo o lado daquela senhora que me hospedou e que parecia ser tão linda por dentro. Eu vou ficar na vontade de rir mais com os amigos que lá encontrei.
Eu agradeço, Pai (se é que existe além de minha mente), por ter sido vista com os olhos da bondade e de ter olhado com os mesmos. Um dia eu começo a fazer crônicas sobre as viagens, mas, neste momento, eu só quis lhe agradecer a oportunidade de ter sido tão feliz.
Rio de Janeiro, 14 de setembro de 2007