LIVRE ARBÍTRIO EM DISCUSSÃO
            
            O livro “21 Lições para o Século 21” do historiador israelense Yuval Noah Harari, tem causado discussões a respeito da questão do livre arbítrio. O livre arbítrio é o poder que cada pessoa tem de decidir por si própria, de escolher por sua vontade o que fazer. O homem é livre para tomar suas decisões pela força do livre arbítrio, assumindo consequências e responsabilidades. Entretanto, esse livre arbítrio na atualidade vem se esvaindo do poder e domínio do indivíduo, pelo controle que hoje tem governos e corporações da vida das pessoas.
          Diz o autor que os humanos certamente têm um arbítrio, mas ele não é livre. Os humanos fazem escolhas, mas essas escolhas nunca são independentes. Porque cada escolha que é feita é dependente de muitas condições de naturezas diversas, biológicas, sociais, pessoais. Não tem mais sentido as pessoas dizerem “quem manda na minha vida sou eu”, ou “eu faço o que bem entender”, porque suas decisões são determinadas em parte pelo seu contexto familiar, pela sua bioquímica, pela cultura nacional, etc.
          Herdado da teologia cristã, o livre arbítrio que dava ao homem a alternativa de um caminho reto ou de pecado, de salvação ou perdição, hoje se constitui um perigo. O desenvolvimento da tecnologia já possibilita que “hackers” manipulem suas escolhas, bastando apenas conhecer um pouco de cada uma das pessoas, como gostos, costumes, lazer, compras, etc. Com essas informações, eles podem induzir as pessoas a clicar em “links” que eles querem, pensando as pessoas que estão fazendo isto pelo seu livre arbítrio quando, na verdade, estão sendo levadas a isto por estarem “hackeadas”.
          Os “hackers” analisam suas navegações na internet, seus itens de consumo, as palavras e opiniões que exprimem nas suas conversações, os fluxos de contatos pelas redes sociais, enfim, já conseguem controlar os desejos das pessoas para direcioná-los a adquirir produtos, a realizar viagens, a fazer consultas médicas, a matricular-se em escolas, a sensibilizar para doações, a votar em políticos, a absorver ideologias, entre infinitas possibilidades.
          Os “hackers” invadem os computadores com relativa facilidade e podem fazer coisas inimagináveis, inclusive serão capazes de “hackearem” nossos cérebros, nossos sentimentos. E aí, então, iludidos com o nosso livre arbítrio, estaremos todos escravos inconscientes, ainda discutindo questões antigas e passando ao largo dos desafios da inteligência artificial e da bioengenharia.
          Ressalta o autor que sendo o humano um ser “hackeável”, é preciso desenvolver um novo projeto político alinhado com a realidade científica e os potenciais tecnológicos. Não há sentido estar ainda se discutindo questões do passado, mas se deve estar debatendo o futuro. Isto implica na determinação de um projeto político de uma democracia liberal, por ser a melhor forma de democracia e por colocar menos entraves no debate sobre o futuro da humanidade.
          No Brasil a democracia liberal está se consolidando, vindo agora a tomar forte impulso com a novo quadro político. A discussão do livre arbítrio continuará a ter o seu espaço, dentro da nova visão governamental que aqui se estabelece.
Ailton Elisiario
Enviado por Ailton Elisiario em 07/01/2019
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