Vida Mortificada

Venho buscando pensar logicamente a respeito da petrificação do espírito. Sim, petrificação do espírito! A expressão que pode soar estranhamente para uns é

compreendida nas mais profundas entranhas para outros.

Geralmente não se faz difícil diluir algo em estado sólido, mas quando se trata das durezas da alma tornam-se extremamente penosas. Por um motivo simples: nos tornamos exclusivamente estagnados, não permitindo mais a natural moldação.

A putrefação de dentro exala um odor bem maior do que o próprio estágio após a dormida, pois quando se está morto o cheiro não te é compreendido, mas quando se está vivo o apodrecimento além de sentido é experenciado carnalmente.

Olhar-se e não se reconhecer entra em conflito com a própria ideia icônica, pois enxergamos exatamente aquilo como está, mas não reconhecemos o que vemos, talvez pela não aceitação ou pelo próprio descaso. A aridez que não se converte e não muda de estações tem um fim conhecido e trágico: o desaparecimento e morte.

A tentativa de uma estrada segura para as mais variadas emoções humanas é um eufemismo para aliviar o peso de ser: o ser para si e não ser além de si. Dizem que existir para si leva tempo: ah, o tempo! Será que existe mesmo o tempo, ou simplesmente nós estamos em um espaço complemente inertes e acreditamos em um passado e um futuro para não perdermos a esperança “no amanhã”?

Por enquanto, acredito que o melhor será acreditar no tempo, aquele que nos permite ver nascer e ver morrer, que nos permite ver o céu escuro e radiantemente claro, aquele que nos permite conhecer e fingir desconhecimento, aquele que nos tem líquidos e sólidos, aquele que observa a nossa gradual petrificação e logo após a nossa putrefação terrena.

Por consequência, enfatizo que viver rodeado de autodurezas é apodrecer vivo. E isto, claramente, não é comum, não é normal e não é humano.

Andresa de Oliveira
Enviado por Andresa de Oliveira em 06/01/2019
Código do texto: T6544313
Classificação de conteúdo: seguro