DIVAGAÇÕES NA TARDE CHUVOSA
Chove intensamente nesta tarde.
De um canto qualquer da grama,eclodem centenas de "aleluias" e na fragilidade de suas asas vão subindo em meio aos pingos que molham o quintal.
Vou lhes acompanhando naquele balé delicado e os pensamentos bolinam minha cabeça.
Vêm-me à lembrança...
O antigo casarão de madeira acabrunhado entre o arvoredo.
O sótão escurecido,picumãs pelo telhado,os guardados de vovó,as duas canastras com velharias,roupas cheirando a môfo e fotos antigas de gente que não conheci.
Num rasgo de claridade,minha cara na janela a vislumbrar gerânios encharcados ao redor da casa.
[ Era como se os pingos obedecessem uma cadência ao cair em suave sobre o colorido das flores ]
Na janela de baixo,eu avistava as mãos enrugadas de vó Maria,segurando a cuia de chimarrão,espiando em forma de prece o viço das plantas que tanto amava.
De quando em quando,uma pera desengonçada caía sobre o telhado,rolava da cumeeira e estatelava-se ao chão.
[ Estendendo os braços,podia-se colhe-lhas lavadas de chuva nas galhadas que aproximavam-se da janela ]
Da outra janela, que dava para a estradinha de chão, a fileira de casas pela vizinhança, encolhia-se entre os arbustos e pequenos tufos de fumaça nas chaminés delatavam o café das três, o prenúncio de jantas em fogões a lenha.
Um silêncio entrecortado pela voz marcante de dona Lucia arrebanhando o gado, o choramingo dos bezerros apartados das vacas mães.
Um galo cantando ao longe e o ruído das rodas dos carroções de feno a caminho das colonias de lavradores.
Espio neste instante esta chuva que benze telhados,as asas cintilantes das falenas (aleluias),o pé de uvaia repleto de flores,projetando frutos sumarentos para fevereiro...
Vapores diáfanos elevam-se da xícara em minha mão (tão rugosa quanto a de vovó segurando a cuia de mate) feito parceiros na revoada dos insetos no quintal lavado de chuva.
Por um instante as lembranças lambem-me as madeixas,vestem-me calças curtas e experimento o gosto das geléias na mesa com toalha xadrez.
Tudo tão longínquo no tempo.Tudo parecendo tão proximo no meu agora.
O trinado melancólico de um sabiá lacra a tarde num galho qualquer.
Abotoo no peito minhas mais ternas lembranças enquanto a chuva escorre pelas calhas,lava a natureza,encharca as flores ao redor da calçada.
Chove intensamente nesta tarde.
De um canto qualquer da grama,eclodem centenas de "aleluias" e na fragilidade de suas asas vão subindo em meio aos pingos que molham o quintal.
Vou lhes acompanhando naquele balé delicado e os pensamentos bolinam minha cabeça.
Vêm-me à lembrança...
O antigo casarão de madeira acabrunhado entre o arvoredo.
O sótão escurecido,picumãs pelo telhado,os guardados de vovó,as duas canastras com velharias,roupas cheirando a môfo e fotos antigas de gente que não conheci.
Num rasgo de claridade,minha cara na janela a vislumbrar gerânios encharcados ao redor da casa.
[ Era como se os pingos obedecessem uma cadência ao cair em suave sobre o colorido das flores ]
Na janela de baixo,eu avistava as mãos enrugadas de vó Maria,segurando a cuia de chimarrão,espiando em forma de prece o viço das plantas que tanto amava.
De quando em quando,uma pera desengonçada caía sobre o telhado,rolava da cumeeira e estatelava-se ao chão.
[ Estendendo os braços,podia-se colhe-lhas lavadas de chuva nas galhadas que aproximavam-se da janela ]
Da outra janela, que dava para a estradinha de chão, a fileira de casas pela vizinhança, encolhia-se entre os arbustos e pequenos tufos de fumaça nas chaminés delatavam o café das três, o prenúncio de jantas em fogões a lenha.
Um silêncio entrecortado pela voz marcante de dona Lucia arrebanhando o gado, o choramingo dos bezerros apartados das vacas mães.
Um galo cantando ao longe e o ruído das rodas dos carroções de feno a caminho das colonias de lavradores.
Espio neste instante esta chuva que benze telhados,as asas cintilantes das falenas (aleluias),o pé de uvaia repleto de flores,projetando frutos sumarentos para fevereiro...
Vapores diáfanos elevam-se da xícara em minha mão (tão rugosa quanto a de vovó segurando a cuia de mate) feito parceiros na revoada dos insetos no quintal lavado de chuva.
Por um instante as lembranças lambem-me as madeixas,vestem-me calças curtas e experimento o gosto das geléias na mesa com toalha xadrez.
Tudo tão longínquo no tempo.Tudo parecendo tão proximo no meu agora.
O trinado melancólico de um sabiá lacra a tarde num galho qualquer.
Abotoo no peito minhas mais ternas lembranças enquanto a chuva escorre pelas calhas,lava a natureza,encharca as flores ao redor da calçada.